segunda-feira, dezembro 27, 2004

Natal dos Porquês Compridos

A noite sagrada metamorforseou-se em tradições e actos sociais porventura independentes de índoles religiosas como distribuir prendas ou enviar sms's . Continua a ser uma noite feliz e mágica para alguns,
(os de alma de pequenino)
triste para outros,
(os de alma solitária)
indiferente para poucos.

  • O PRESÉPIO surgiu em 1223 quando São Francisco de Assis mandou transportar uma manjedoura, um boi e um burro para a floresta de Grecciouma em Itália. Em 1567 a Duquesa de Amalfi construiu o primeiro presépio em casa particular, com 116 figuras.

  • O BOLO-REI foi trazido de Paris para Portugal nos finais do século XIX onde foi confeccionado na Confeitaria Nacional, em Lisboa. "Galette" ou "gâteau des rois" para os franceses, "panettone" para os italianos, "roscón de reyes" para os espanhóis, com diferenças na receita. Com a Revolução Francesa a derrubar a monarquia foi rebaptizado. E em Portugal com a proclamação da República "bolo-presidente" ou "bolo-Arriaga". Ao contrário da ponte sobre o Tejo o bolo acabou por reconquistar o trono e o nome original.

  • A ÁRVORE de NATAL remonta à primeira metade do séc. VIII, na Alemanha. O monge britânico São Bonifácio pregava um sermão sobre o Natal. Cortou um carvalho para tentar acabar com a sua adoração pelos alemães da época, que ao cair destruiu tudo em volta excepto um pequeno pinheiro. O monge aproveitou o facto e afirmou que havia acontecido um milagre, pois o pinheiro simbolizava a "árvore do Menino Jesus". A colocação de luzes é atribuída a Martinho Lutero que quis mostrar aos filhos o efeito das luzes das estrelas a atravessarem os galhos dos pinheiros.

Como o presépio e a árvore de Natal o Coroneu metamorforseou-se diante da lareira quente, com chocolate quente num feliz ambiente quente e tranquilo compartilhado com bolos, doces, ceias de bacalhau, laços que brilham, vinhos e aguardentes, pêlos de gatos sonolentos, embalado pela TV contente que à distância do comando se afasta da TV triste dos comerciais.

domingo, dezembro 26, 2004

25 de Dezembro 6 e 1/2

O vocábulo Natal significa nascimento. Em castelhano navidad tem o mesmo significado. Em inglês a alusão a Cristo é mais directa. Christmas. No idoma alemão Weih.nacht assume o significado de 'noite sagrada', tradução livre do Coroneu.

Na Letónia os 12 dias seguintes à véspera de Natal são dias de presentes. Em Espanha os presentes oferecem-se no dia de reis, a 6 de Janeiro. Na Rússia comunista o dia de troca de presentes era o primeiro dia do ano, e na Rússia de hoje permanece o dia 7 de Janeiro por questões de calendário Juliano ligado à igreja ortodoxa. Na Bélgica o dia de São Nicolau é celebrado a 6 de Dezembro. E na Finlândia é celebrado o verdadeiro culto do Pai Natal nos três dias de celebração a contar na véspera do dia. Os Finlandeses aproveitam a época para visitar os cemitérios onde depositam velas acesas. Ao que parece, longe de um acto lúgubre, é um espectáculo nocturno bonito. Como um nocturno de Chopin, imagina o Coroneu.

terça-feira, dezembro 21, 2004

Rios de Prata Piratas

O Coroneu cantarolou esta música que funcionava como um reflexo de Pavlov e em frente à TV desejou muitas vezes rir como o Saci, a Emilia era uma chata e o Visconde nervoso. Nunca tinha prestado atenção à letra recordada recentemente pelo primo do Coroneu. Redime-se agora:

Marmelada de banana
Bananada de goiaba
Goiabada de marmelo
Sítio do Pica-pau Amarelo (bis)
.
Boneca de pano é gente
Sabugo de milho é gente
O sol nascente é tão belo
Sítio do Pica-pau Amarelo (bis)
.
Rios de prata piratas
Vôo sideral na mata
Universo paralelo
Sítio do Pica-pau Amarelo (bis)
.
No país da fantasia
Num estado de euforia
Cidade Polichinelo
Sítio do Pica-pau Amarelo (bis)

quinta-feira, dezembro 16, 2004

Mãe de Santo Preta e Gorda

Há tempos o Coroneu conheceu no Brasil uma bahiana mãe de santo preta, gorda e de idade incerta
.
(todas as verdadeiras mães de santo são pretas, gordas e de idade incerta)
.
que recusou com veemência ler a mão esquerda do Coroneu por lhe faltar a linha da vida. Saltou, fez três juras de incenso fedorento num idioma aromatizado a português e antes de desaparecer ofereceu ao Coroneu qualquer coisa que não tinha importância.
.
O Coroneu já se teria esquecido deste encontro não fosse encontrar a oferta da mãe de santo preta e gorda, que subitamente adquiriu qualquer importância.

quarta-feira, dezembro 15, 2004

Indiana Jones IV - PistaS

O Coroneu adormeceu e como sempre nos sonhos apareceram velhos amigos a lembrar que existem.

O Coroneu disse Olá caro Dr. Indy há quanto tempo e ele respondeu Olá Coroneu desde 89 seu bastardo imundo, o Coroneu ia dar-lhe um soco mas ele esquivou-se Não penses que a idade me pesa e ricocheteou um gancho a passar rente ao queixo do Coroneu. Quase Dr. Indy disse o Coroneu De facto foi quase foi, isto ser um sonho dá-me vantagem torna-me mais leve.

Pois é Coroneu parece que estão a retocar o argumento final para começar a filmar no inicio do ano, disse o arqueólogo Já tinham um mas apesar de agradar ao Spielberg não convenceu o George Lucas
.
Sei que o filme se passa nos anos 50 mas mais nada nesta altura eu já não tinha problemas com os názis odeio aquela gente
- o arqueólogo franze a testa -
.
Nessa altura foi quanto aconteceu aquilo da
Atlântida o George lançou há tempos um jogo de computador sobre isso até me perguntou e eu dei-lhe permissão mas não sei
- o arqueólogo encolhe os ombros -
.
Bem e nessa altura eu ao invés dos nazis já tinha a minha filha que com o meu pai me dava grandes dores de cabeça
- o arqueólogo sorri -
.
E nisto o ar esfuma-se num clap de chicote e quando o Coroneu se dá conta estava a dormir profundamente. Mas quem sabe numa noite próxima de si não acorda e vê anunciado num cinema uma nova aventura ao redor do mundo com o maior arqueólogo da ficção cinematográfica que nasceu de um puro entusiasmo entre 2 amigos.
- e o Coroneu sorri -

segunda-feira, dezembro 13, 2004

Decreto 13.12/04 do Sítio do Coroneu Capeta

O Coroneu publica a resolução do conselho que delibera:
.
Que a partir da data corrente seja tomado o dia de 'Domingo' como uma repetição do dia de 'Sábado'. Mais ainda, fica assim determinado que no dia de 'Domingo' se fará toda a actividade diurna e nocturna inerente até hoje ao dia de 'Sábado', tornando-se vigente a denominação sucessiva: Segunda, Terça, Quarta, Quinta, Sexta, Sábado, Sábado, Segunda, Terça,....
.
(Pecado que para os utentes da neura de Domingo seja impossivel anular a mesma por decreto...)

terça-feira, dezembro 07, 2004

Exclusivo Para Homens de Visão

"Three quarks for Muster Mark!Sure he hasn't got much of a barkAnd sure any he has it's all beside the mark.", Finnegan's Wake, James Joyce
O prémio foi ganho por três cientistas norte-americanos David J. Gross, H. David Politzer e Frank Wilczek por terem desenvolvido uma teoria que explica os quarks e a atracao forte que os une.
(Os são as partículas mais elementares e indivisiveis o que significa que ao abrir uma mesa se encontra madeira, ao abrir madeira (...), que ao abrir se encontram neutroes e protoes que ao abrir encontram-se quarks - que já nao se conseguem partir mais)
O Coroneu sempre pensou na Engenharia em geral e na Fisica em particular como uma coisa divertida(nao vale a pena dedicar tempo a nada que nao seja divertido ou que nao divirta alguém)
e ao depararem com isto dos quarks os fisicos devem ter pensado o mesmo.Porque aos diferentes tipos que encontraram deram nomes de sabores e às interaccoes de forca entre eles nomes de cores
(Seis tipos de sabores: up, down, charm, top, bottom e tres cores: vermelho, verde e azul)
e o próprio nome quarks foi inspirado no poema de James Joyce transcrito acima, que significa aves a falar...A descoberta dos laureados foi o comportamento estranho dos quarks: quanto mais próximos estao, menor a atraccao A atraccao aumenta com a distância - como uma borracha que se estica ou como alguns casais que separados por kilometros sentem a dificuldade de viverem afastados. A atracao forte como forca fundamental que move o mundo. O infinitamente pequeno e o infinitamente grande afinal, nao parecem estar muito distantes.

domingo, dezembro 05, 2004

Viagem ao Interior de Si Próprio

Em Dezembro, com a proximidade do final do ano, as antigas retrosarias e armazéns encerram durante 2 ou 3 dias justificando-se com um aviso "FECHADO PARA BALANÇO" colado no lado de dentro da vitrine à altura do nariz do cliente.
.
O Coroneu imagina sempre essas casas comerciais encerradas numa viagem ao interior de si próprias em que os donos e empregados traduzem em números mercadorias enredadas de fios de cobre, poeirentas sacas de adubo ou parafusos de cruz orfãos das respectivas chaves. No final, a casa retira o aviso da vitrine e abre as portas apresentando uma ordem traduzida num orgulhoso brilho limpo do balcão de madeira e uma disposição mais prática das mercadorias.
.
Um amigo do Coroneu observou "Coroneu, nós todos precisamos de fechar para balanço de vez em quando, fazer uma viagem ao interior de nós próprios".
.
O Coroneu concordou e foi ao médico. Em conclusão, numa recente viagem ao interior de si próprio o Coroneu encontrou - impresso em radiografia ou traduzido em exames - o que já suspeitava: um coração, pares de tripas ligadas ao estômago, pulmões e um fígado. Tudo recomendável e em bom estado. Incluíndo - pasme-se - o fígado.

quarta-feira, outubro 13, 2004

Quark! Quark! Quark!

"Three quarks for Muster Mark!
Sure he hasn't got much of a bark
And sure any he has it's all beside the mark.", Finnegan's Wake, James Joyce

O prémio Nobel da Física 2004 foi ganho por três cientistas norte-americanos David J. Gross, H. David Politzer e Frank Wilczek por terem desenvolvido uma teoria que explica os quarks e a atracao forte que os une.

(Os quarks são as partículas mais elementares e indivisiveis o que significa que ao abrir uma mesa se encontra madeira, ao abrir madeira (...), que ao abrir se encontram neutroes e protoes que ao abrir encontram-se quarks - que já nao se conseguem partir mais)

O Coroneu sempre pensou na Engenharia em geral e na Fisica em particular como uma coisa divertida
(nao vale a pena dedicar tempo a nada que nao seja divertido ou que nao divirta alguém)
e ao depararem com isto dos quarks os fisicos devem ter pensado o mesmo.

Porque aos diferentes tipos que encontraram deram nomes de sabores e às interaccoes de forca entre eles nomes de cores
(Seis tipos de sabores: up, down, charm, top, bottom e tres cores: vermelho, verde e azul)
e o próprio nome quarks foi inspirado no poema de James Joyce transcrito acima, que significa aves a falar...

A descoberta dos laureados foi o comportamento estranho dos quarks: quanto mais próximos estao, menor a atraccao entre eles. A atraccao aumenta com a distância - como uma borracha que se estica ou como alguns casais que separados por kilometros sentem a dificuldade de viverem afastados. A atracao forte como forca fundamental que move o mundo. O infinitamente pequeno e o infinitamente grande afinal, nao parecem estar muito distantes.

sexta-feira, outubro 08, 2004

Condutor de Quê?

Para conduzir empilhadores é normalmente necessario uma licenca que o Coroneu nao possui. No entanto, devido ao fluxo acumulado na fábrica, o Coroneu conseguiu finalmente curar a curiosidade do veiculo com 4 alavancas. A dada altura ia-se distraindo. Felizmente ninguém reparou. Nem a senhora que ia levando com os contentores no colo...

Realmente foi melhor desligar, sair do empilhador, deixar as mudancas e pegar nas folhas, sair da fábrica e subir ao escritorio dos fato e gravata onde se tomava café e discutia as medidas do ministro. Pelo menos por algum tempo.

Domingos ao Sol

Os Domingos contrariam a Fisica; as tardes sao mais longas, a noite mais curta, as familias juntas. Porque na verdade nao é um dia, é um espaco comprido entre o Sábado e a Segunda, em que os católicos praticantes aproveitam as manhas de missa e os filhos e netos acordam para almocar em familia.

É um espaco usado para passear sem destino ou voltar a casa depois de um fim de semana. Os relatos da jornada ecoam nos cafés, em carros estacionados de porta aberta ou pelas janelas dos bairros antigos. Se chover, o sofá é um abrigo amigo e o telefone a tocar de vez em quando, uma agradavel surpresa.

Aos Domingos, em qualquer parte do mundo, passeia-se na suspensao da Segunda - à excepcao de Montevideo onde a noite de Domingo é a mais animada da semana.

Mas o melhor de Domingo é quando faz sol e se tem tempo para o dividir. Nao há nada melhor para dividir que o Sol. E há sempre um casal que partilha o jornal numa mesa de esplanada. Um irritante casal feliz, porque a felicidade pode ser irritante.
(Nao, nada disso, o Coroneu nao sente ternura nem a almeija)
Nada disso até porque hoje é Sexta Feira. Dia de Bairro Alto, de BBC ou de um bar qualquer onde se encontram amigos ou se conhece gente nova e bonita e divertida. Onde também se encontram casais com a tal felicidade irritante que contrariam a Fisica. E o que contraria a Fisica nao pode ser bom.
(Pronto está bem, é um bocadinho de ternura mas nao se fala mais disso)

quinta-feira, setembro 23, 2004

Viajar no Tempo

Quando o Coroneu aprendeu o que era a velocidade da luz teve também a nocao da ideia de viajar no tempo.

Por exemplo, o sol está tao longe tao longe que a luz demora 8,5 minutos a chegar, o que significa que quando se olha para cima vê-se o sol de 8 minutos e meio atrás. Significa que os escaldoes da praia sao causados por luz do passado, que deixou o sol há 8 minutos e meio atrás. Se houvesse um cortinado enorme que cobrisse o sol, só davamos pela ausência da luz 8 minutos e meio depois.

A luz da lua demora menos, demora pouco mais que um segundo. O luar que se admira saiu da lua há 1 segundo atrás. Se com um interruptor desligassemos a luz da lua, contávamos um segundo até ela desaparecer do céu.

O que sugere as viagens no tempo. A primeira viagem à lua demorou 4 dias. Se houvesse a possibilidade de andar à velocidade da luz, chegariamos à lua em pouco mais que 1 segundo. À velocidade da luz chegariamos ao sol em 8 minutos e meio.

Mas se nao houvesse a suposta impossibilidade de viajar mais rápido que a luz e se tivessemos um transporte com o dobro dessa velocidade significa que podiamos chegar ao sol em pouco mais que 4 minutos. Ou seja, como a luz demora 8 minutos e meio, quando chegassemos, ao olhar para trás, podiamos ver a nossa imagem a meio caminho entre o sol e a terra. E 4 minutos depois nós próprios a chegar.

O que sugere que o tempo está ligado ao espaco e que quanto mais espaco se percorre e quanto mais depressa se percorre esse espaco, maior é a viagem ao passado. Mas a partir do momento que se contraria a impossibilidade de viajar à velocidade da luz, saimos fora de âmbito para a ciência actual. Já o viajar para o futuro previsional está fora de âmbito para o Coroneu.

"O futuro a Deus pertence", diz o ditado. É um espaco-tempo por nascer, cultivado ao segundo com o empenho descontraido ou entusiasmado do Grande Arquitecto que vive em cada um dos seres vivos desta galáxia. E das outras.

sexta-feira, setembro 17, 2004

À Segunda é de Vez

O Coroneu está novamente na fase de enviar CV's. Para saber o nome da directora de recursos humanos onde há anos tinha ido a uma entrevista, telefonou para a empresa. A resposta da telefonista foi categórica.

- Nao damos esse tipo de informacao.

Como poucas coisas na vida proporcionam segundas oportunidades há que aproveitar as que existem. O Coroneu esperou um dia, anasalou a voz com sotaque estrangeiro e marcou o mesmo número

- Bom dia, falo da Global American e ter em holding o nosso accionista Jones requerido pela vossa directora de recursos humanos, doctor... doctor...

- A Dra. Catarina Moreira, tenha a gentileza que eu vou passar.

Vá lá, ainda bem que nao dao a informacao a qualquer um.

quarta-feira, setembro 15, 2004

Alguns Escritores

Proust soube que estava a morrer e decidiu abandonar a vida de foliao, reclusou-se em casa e escreveu um livro em tres volumes chamado "À Procura do Tempo Perdido".

Hemingway escreveu uma obra completa em paralelo com uma vida de viagens, reportagens, caças e de folia e deixando de escrever, reclusou-se em casa para morrer com um tiro de espingarda de caça.

JD Salinger está vivo numa casa isolada no meio de um sobrado dos EUA onde à entrada se lê "proibida a entrada" e a quem ignora o letreiro faz questao de o recordar a tiros de espingarda de caça. Nos poucos livros que escreveu fez uma exigencia - que a capa apenas contivesse o seu nome e o titulo, sem desenhos nem design.

Saint Exupery foi considerado um inutil pela professora da primária e anos depois escreveu um livro chamado "O Ultimo Voo". Anos depois fez o seu próprio ultimo voo e desapareceu dos radares no aviao que pilotava, sem vestigios de destroços ou despenhamentos.

Deve custar uma vida escrever livros bons. Mas nao é preferivel sacrificar um livro para ter uma vida boa?

terça-feira, setembro 14, 2004

Duas Frases de Shakespeare

"Se fores honesto contigo próprio, a vida seguir-se-á naturalmente, tal como a noite sucede ao dia"

O que há de bom em Shakespeare é que as palavras das personagens sao de uma verdade muito transparente. (Tao transparente que as próprias personagens sao por vezes fantasmas).

A dificuldade da frase citada reside em saber o que é ser honesto com a própria pessoa. Decidir que realmente se deseja algo ou que afinal se trata de um capricho? Nao sabotar opcoes? Nao ponderar oportunidades com dados viciados? Nao perder o foco de vista? Ser honesto com os outros? O Coroneu nao sabe. Às vezes ser honesto parece traduzir-se em pedir um sumo de laranja e um croissant ao pequeno almoco.


Outras vezes significa tomar decisoes irreversiveis que parecem a maior das injusticas. Há temporadas em que a tempestade é tao grande que perde-se o foco e a direccao das estrelas e tenta-se a todo o custo nao navegar num capricho, nao sabotar opcoes, nao jogar com dados viciados e mesmo assim tem-se a sensacao que se falhou e naufragou-se ao largo da costa perdendo a oportunidade de uma vida. Ainda bem que há abrigos onde recuperar a verdade.

"Em horas de tempestade qualquer porto é um abrigo"

quinta-feira, setembro 09, 2004

Viver no Hotel

Chega ao hotel. Enquanto passa no hall toda a gente o cumprimenta. Nao sao amigos, trabalham no hotel e há uma empatia natural. Sobe pelo elevador. Guardam-lhe sempre o quarto no ultimo piso e com vista para a ribeira, como gosta.

Entra no quarto. Como sempre, a cama está feita, um chocolate na dobra dos lencois lavados, o quarto ordenado, as toalhas limpas e dobradas na casa de banho. Tapa o ralo da banheira, abre a torneira e derrama um ou dois frasquinhos de champô do hotel que faz uma espuma imensa. Pondera com a mao a temperatura da água.

Enquanto a banheira enche, descalca-se e deita-se na cama. Pega no comando e corre as noticias da televisao. Hesita numa ou outra, por vezes nalgum programa cómico ou desenho animado. Pega no telefone e inicia os telefonemas do dia, à familia e aos amigos. Os telefonemas descontraiem, relaxam e fica com boa disposicao. O telemovel toca. É um agradável convite para jantar, é bom ter amigos. Diz "uma hora". Entretanto vai-se despindo. Apaga a televisao e abre no portatil o programa de musica. Aumenta ligeiramente o som, para se ouvir da casa de banho.

Antes de entrar na banheira acende duas ou três velas e apaga a luz. A água está tépida, uma temperatura boa. A musica está distante, vem do outro lado da porta. Adormece... Volta a acordar e volta a adormecer... Várias vezes... De repente o telefone toca e do outro lado alguém reclama. É sempre o mesmo o Coroneu! E depois como explicar aos amigos que se chegou atrasado por adormecer na banheira de um hotel?

O que eles nao sabem é que o paraiso se pode construir em qualquer momento, em qualquer lugar. É só querer. Seja em casa, seja com amigos num bar, ou num hotel onde os empregados nos cumprimentam com simpatia antes de subirmos e montarmos a nossa felicidade num reconfortante banho de uma hora em que as bolhas de espuma tépida nos refletem as chamas tranquilas de duas velas acesas.

quarta-feira, setembro 08, 2004

Coisas do Norte

Estava o Coroneu na casa de banho da fábrica quando batem à porta como que a querer derrubá-la.
"Eh lá!", gritou o Coroneu.
Do outro lado a inconfundivel voz tripeira do senhor da manutencao:
"Óh engenheiro, tao-lhe a chamar caralho!"

A frase é dúbia, mas realmente requisitavam-no junto à linha...
O norte é lindo!

segunda-feira, setembro 06, 2004

Fashion Readings

O Coroneu nunca foi um leitor por modas. Muito pelo contrário, na escola implicava com os livros obrigatórios. Na altura d'Os Maias, por exemplo, era a tia do Coroneu quem contava o resumo no dia anterior à apresentacao na sala de aula. Viagens na Minha Terra veio a revelar-se de um tédio incontornável - defeito do Coroneu que foi apanhado a dormir babando-se directamente para a obra aberta algures por Santarém. Mas isto é o Coroneu que nunca gostou de fazer obrigado o que deveria ser de prazer expontâneo.

E a fashion reading deste Verao é O Codigo Da Vinci. O Coroneu ainda nao leu mas toda a gente esta curiosa ou ja leu ou vai ler. O livro moda do Verao passado supoe o Coroneu que foi o Equador. Há tres anos o Sei Lá. Antes talvez o Harry Potter. Há uns tempos atrás O Mundo de Sofia. Depois há as semanais, como o Expresso (que tal como a democracia, é tendencioso para a maioria, cataliza opinioes e nao é bom - mas é sem duvida o melhor que há).

Nao é mau, isto das fashion readings. Poe mais pessoas a ler. E pelo menos as obras escolhidas sao de uma qualidade superior aos grandes blockbusters cinematograficos de Verao.

Se a tia do Coroneu estivesse por cá, curiosa como era, perguntaria que historia é essa que toda a gente fala na TV sobre um código secreto, a última ceia e que se passa ao redor do mundo. E seria agora o Coroneu a comprar o fashion book do Verao para contar o resumo do capitulo lido no dia anterior.

sexta-feira, agosto 27, 2004

Here Comes your Boss Again

O regresso de férias é como a vinda de uma realidade diferente e tudo o que se passa no emprego esta do outro lado de uma janela de vidro fosco. Nao há mais praia, nem campo, nem noites longas, nem bares, nem conversas prolongadas... Resta a heranca das férias traduzida num corpo bronzeado e no espirito relaxado e tranquilo.

Por outro lado a qualquer altura comeca a preocupacao, os prazos, os orcamentos, as manhas de acordar precoce... Eh lá! Parou! Devagarinho... A primeira semana é para andar devagarinho, comecar a falar das férias como as noivas fazem no regresso de uma lua de mel, tomar pequeno almoco prolongado... Até a altura em que a porta se abre numa pressa de escritório e alguém diz

- Óh my God, here comes your boss again...

segunda-feira, agosto 23, 2004

As Vacas de Praga

Durante a recente visita que o Coroneu e o Murruga fizeram a Praga, o que mais observaram na cidade foram vacas. Há de todos os gostos. Gordas, esqueléticas, discretas, desinibidas... Mas todas de fibra de vidro.

A CowParade organizada por Peter Hanig, desde 1999 que espalha vacas de fibra de vidro em tamanho natural numa variante de tres posicoes pelas ruas de uma cidade, decoradas por artistas locais. Alem de Praga, decorrem no momento exposicoes em Estocolmo, Manchester e Harrisburg. A cidade seguinte é na África do Sul.

No final da exposicao as vacas sao leiloadas e parte das receitas destinam-se a fins de caridade. (No leilao de Chicago, assistido pela casa Sotheby's, foram angariados 33 milhoes USD).

Estas vacas sao simpaticas, nada interesseiras, e nunca caiem na irresponsabilidade de prematuras declaracoes de amor mal ponderadas. Haja mais assim... Brevemente numa cidade perto de si.

quarta-feira, agosto 04, 2004

Perde-se Sempre Algo na Traducao

- Sabe,
disse o cliente ingles,
- Nao consigo ver a luz ao final do tunel.

- Sabe,
respondeu-lhe o director de producao,
- Conheco um oculista muito bom...

- He said that,
disse o Coroneu a traduzir o director de producao para o cliente ingles,
- Até ao fim do mês os atrasos estao recuperados.

sexta-feira, julho 30, 2004

Desafio

Para comemorar o post numero 100, e na continuidade do post anterior, o Coroneu desafia cada um dos leitores a telefonar para alguém realmente especial com um telefonema realmente especial.
(alguma coisa, digam que foi o Coroneu que mandou)
O tempo é curto, a vida é curta demais e as noites compridas demais. É uma idiotice desaproveitar oportunidades. Um obrigado do Coroneu.

terça-feira, julho 27, 2004

Versao Revista e Melhorada

Caro Sr. Jesus e familia (Sagrada):

após consulta a alguns seres criados à imagem do Sr. Jesus, o Coroneu vem propor uma alteracao simples à primeira versao da Criacao

(toda a primeira versao de qualquer coisa contem erros ...)
no que diz respeito, por exemplo, quando as pessoas morrem:

A morte devia chegar com aviso de recepcao. Essa coisa da surpresa, além de embaracar o visado em algumas circunstancias, é muito desagradavel. O visado receberia o aviso de uma semana a um mes antes do acontecimento – a variavel depende de numero de filhos, responsabilidades sociais, funcao profissional e outras que o Coroneu deixa ao Criterio Divino.

Depois do aviso de recepcao o visado teria tempo de resolver assuntos pendentes
(zangas de namorado, distribuicao de herancas, traumas familiares, filmes de recordacao, demonstracoes de afecto incompletas...)
e só depois desse tempo assinaria o papel. Depois poderia por exemplo despedir-se com uma festa ou um cha das cinco em que à chegada as pessoas ao inves de dizerem
- Olá, tudo bem.
diriam
- Adeus, gostei muito de ti.
e a meio da festa ou do chá das cinco, quando ninguem desse conta, o visado sairia soltando um timido
- Até logo.
antes de fechar a porta, que ninguém ouviria por causa do barulho da musica ou da conversa.

É que às vezes acontece o contrário. Tem-se a sensacao  que se disse
- Adeus, gostei muito de ti.
ou
- Até logo.
mas que o visado nao ouviu por causa de um barulho de musica ou de uma conversa ou de outro ruido qualquer que na altura nao parecia importar, e só perante a batota de morrer sem avisar se amplia num vazio insurdecedor que ataca o estomago.

Seria bom que o Sr. Jesus ponderasse alteracoes deste genero porque mais de 2 mil anos sem mudanca criam descredito em qualquer sistema. De qualquer modo, se nao houver mudanca nao faz mal. O Coroneu e o resto dos seres criados à imagem do Sr. Jesus cá estarao para fazerem segundo a Vossa vontade a
té morrerem
(sem aviso de recepcao, sem festa, sem cha das cinco e a distribuir desvelos de carinho na imprevidencia que uma morte subita impeca de dizer Gosto de ti a alguem verdadeiramente especial).
 
O Coroneu tem consciencia que se deve estar sempre preparado, mas acredite que nunca se esta. Obrigado e espera o Coroneu ver o Sr. Jesus muito mais tarde.

terça-feira, julho 20, 2004

Nao Era Bem Isso

Como o Coroneu trabalha de momento numa fabrica a controlar a producao, faz muitas piscinas a fazer perguntas. Na linha de montagem a maioria dos trabalhadores sao meninas.
 
(está oficialmente provado que as mulheres sao mais competentes em actividades repetitivas - o que nao significa que sejam menos competentes nas outras)
 
Estava o Coroneu a fazer perguntas a uma menina de um posto de trabalho
(-Esta a fazer o que? - De onde vem a peca? -E como ve se rejeita a peca? -Onde regista se a peca for rejeitada?)
quando ao fazer a pergunta final
- E depois vai para onde?
a menina respondeu a sorrir
- Eu daqui vou para casa a nao ser que venha um convite melhor.
 
O Coroneu embrulhou, sorriu também, agradeceu e passou a ter mais cuidado ao fazer perguntas. É que com as meninas da linha todo o cuidado é pouco.

sábado, julho 17, 2004

Business, Business

Finalmente o Coroneu pousou a mochila, despiu o poncho, substituiu as botas de caminhar por um calcado confortavel, a tenda por uma casa com renda e comecou a responder a anuncios. Encontrou alguns biscates e poucos dias depois um telefonema para uma entrevista que prometia, numa àrea de tecnología que agradava ao Coroneu. O Coroneu ficou contente.
 
A primeira entrevista foi com uma psicóloga que gostou das respostas. Dois dias depois telefonou ao Coroneu para a segunda entrevista. Quando o Coroneu chegou para a segunda entrevista ficou a saber que o trabalho a fazer era totalmente diverso do que o que lhe tinham falado e foi apresentado ao sr. engenheiro X que comecou por responder assim a uma duvida do Coroneu 
            -Aquí quem faz as perguntas sou eu.
E continuou
            -Aquí quem responde a perguntas é você.

O Coroneu precipitou o final da entrevista, levantou-se e apertou a mao ao sr. engenheiro X. Ao chegar à rua respirou de alivio, desapertou a gravata e despiu o casaco do fato antes de entrar no metro. O que lhe apetecia era vestir o poncho, levantar a mochila, substituir o calcado pelas botas de caminhar e em vez de ir para uma casa com renda adormecer numa tenda à beira de um lago a ler um livro qualquer iluminado à vela. Mesmo que nao repita, ao menos o Coroneu conhece-lhe o sabor.

sexta-feira, julho 02, 2004

Sabedoria do Povo Pequenino

Andava o Coroneu a ponderar improbabilidades quando à entrada do metro uma menina rebentou em choro de angustia por ter perdido a mãe. O Coroneu deu-lhe a mão e foram direitinhos à cabine de controle da estação. Não demorou muito chegou a mãe a tremer de preocupação e encheu a menina de carinhos ansiosos.

Às vezes as pessoas sentem-se perdidas e acham o mundo grande demais. E não encontram sozinhas a cabine de controle da estação. O Coroneu ficou a saber. Se calhar funciona assim: confiar na mão de algum amigo improvavel. Depois é ter fé que chegue alguém a tremer de preocupação e desvaneça a angustia em carinhos ansiosos.

Realmente as crianças é que sabem.

quarta-feira, junho 30, 2004

Parentesis Politico Actual

Durão Barroso abandonou o cargo de Primeiro Ministro de Portugal a meio do mandato para aceitar o cargo de Presidente da Comissão Europeia. Os europeus estão agora expectantes por ver se cumpre o mandato ou se é entretanto sugerido para a NATO...

terça-feira, junho 29, 2004

Coroneu Lavou a Cara

O Coroneu lembrou-se das vezes em que saia da tenda e tomava banho num lago frio da Patagónia (os europeus aprenderam o hábito do banho com os indigenas da América do Sul) e por isso lavou a cara ao blogue.

Cara lavada, modificações, simplificações, acrescentos e perfil completo do Coroneu onde há também um mail para solicitação de entrevistas ou conferências.

Uma Pista Cultural


'Tres Bañistas' de Paul Cezanne influenciou Picasso de tal forma que o levou a pintar as suas próprias Banistas, no período neoclássico que antecedeu o cubismo.

segunda-feira, junho 28, 2004

A Senhora muito Velha que Fuma

O Coroneu viu-se de novo limitado a 3 paredes e uma porta para a varanda - o que já não é mau - no antigo 3º andar de Lisboa.

Na actualidade as varandas e janelas pavoneiam-se com bandeiras portuguesas em riste estendidas ao sol desfolhadas num unânime patriotismo do EURO 2004 que apenas transtorna o esvoaçar dos pombos e outros desconfiados menos entusiastas. Mesmo que seja por moda - ou não - o Coroneu gosta. O edificio não é estranho ao Coroneu. Já ali vivera há tempos durante um ano ou dois. É remodelado e tem muitas aberturas para a luz. Mas agora é de noite e o Coroneu vê-se de novo limitado no quarto que já fora seu. Ainda persistem alguns mapas na parede, um de cada região por onde o Coroneu viajou e um ou dois de cidades mais especiais. O Coroneu tem uma adoração carinhosa e quase infantil por mapas. Antes de dormir o Coroneu foi à varanda. Calcula que teria acendido um cigarro se fumasse.

Na janela em frente, do outro lado da rua ela aparece de camisa de dormir a esvoaçar do parapeito os pombos despertos. É uma senhora muito velha que fuma, só vai à janela para fumar, só sai da cama para fumar. A senhora só tem janela e da varanda do Coroneu vê-se um ângulo da cama. Durante todo o dia entende-se a obscuridade do quarto interrompida pelo candeeiro sempre acesso que ilumina a leitura continua de um braço a mover-se ao virar a página dos livros de que nunca se percebe a capa.

Talvez a senhora muito velha que fuma tenha sido ela própria uma entusiasta trotamundos. Talvez se tenha cansado ou um problema de saúde apesar de fumar ou então simplesmente depois de uma viagem se tenha esquecido de continuar. Ou pode ser que se tenha lembrado mas se tenha fartado de viajar sozinha e não tenha encontrado nenhum companheiro de viagem. Ou ainda encontrou mas permaneceu numa espera que não acaba nunca.

Há algumas pessoas a quem o Coroneu mostra a senhora e que depois de dizer o que pensa encerram o assunto com um conclusivo É pouco provavel. Ou que resolvem a senhora muito velha que fuma como um cansaço de vida à espera da morte. Mas o Coroneu sabe que não é assim. A janela dela também tem uma bandeira.

E o Coroneu sabe, tem a certeza e até apostava se houvesse forma de verificar que a senhora muito velha que fuma tem as paredes do quarto forradas a mapas de cidades, paises, continentes, prateleiras de chichas do Egipto, de mates da Argentina ou chapéus de palha da República Dominicana e que os livros que lê são roteiros, guias turisticos especializados no idioma local. E que só está à espera do companheiro enquanto estuda na cama o guia da próxima viagem. O Coroneu deseja-lhe felicidades para a próxima viagem. E espera que não demore muito. Porque deve ser dificil passar anos num quarto com a obscuridade interrompida apenas pelo candeeiro da cabeceira.

quarta-feira, junho 16, 2004

Vara de Indio

"Así, al empezar el exterminio de indios, los [indios] onas no tenían dioses protectores, y los europeos y los criollos los vieron construir pésimas embarcaciones con pieles y cortezas, intentaron rescatar a sus dioses del fondo de la mar, o tal vez quisieron vivir con ellos en su nueva morada.", Mundo del Fin del Mundo, Luis Sepúlveda.

O Coroneu descia a colina dos mapuches apoiado numa vara esculpida pelo próprio mapuche, filho de cacique, que montava o cavalo frente ao Coroneu. O cavalo descia lentamente e em silêncio e o Coroneu seguia atrás com a tenda compactada presa à mochila e a mochila presa às costas, apoiado na vara esculpida.

O Coroneu gostou da vara esculpida assim que a viu e ficou contente quando o mapuche lha ofereceu.

Quando chegaram ao lago, o índio desmontou do cavalo e ajudou o Coroneu a estabilizar a mochila dentro do bote. Depois o Coroneu passou-lhe a vara. O filho do cacique, em vez de acomodar a vara no fundo do bote lançou-a para o meio do lago.

Enquanto atravessava o Coroneu para a outra margem disse que nenhuma vara era indispensável. Disse que uma vara não são pessoas nem animais, é só uma vara e não era bom desperdiçar o resto das varas que a natureza nos disponibiliza pelos caminhos. O Coroneu disse “pois pois, claro” e pensou “lá está este a fazer papel de indio que fala ao gringo”.

O Coroneu despediu-se e fez a hora de caminho até chegar à estrada. Só quando começou a sentir o peso da mochila e procurou uma vara nova começou a meditar melhor. “Até que faz sentido”, pensou o Coroneu, “Ou não...”.

Pesca de Curiosidades

Em várias cidades da Bolívia e do Peru há um tipo de comerciante de rua que empurra um carrinho com duas rodas e anuncia a mercadoria por detrás de um megafone. No Peru a mercadoria anunciada é uvas. Na Bolívia rolos de papel higiénico.

Em Potosi, a cidade boliviana mais cicatrizada pela exploração de minas, proliferam escritórios de advogados. Os advogados, quando se formam, fazem um juramento com os dedos retorcidos – uma mistura de vulcano com o ok do mergulhador.

Quer na Bolívia quer no Peru, para entrar num autocarro a partir da estação é pago um imposto “direcho a anden”, além do bilhete do autocarro em si. Sem pagar este imposto não nos deixam passar da estação para o recinto dos autocarros.

No Chile põem morango nas espetadas e sal antes de morder a maçã.

O Peru e o Chile reclamam como bebida nacional o Pisco, um licor alcoólico forte. O Coroneu não devia tomar partido mas toma o do Peru – afinal Pisco é mesmo uma cidade peruana.

O índice de popularidade actual do presidente do Peru é inferior a 10%. O presidente não se demite porque pretende chegar ao fim do mandato para assegurar a reforma, facto naturalmente assumido por todos os peruanos – e incomodativo para os peruanos esclarecidos.

terça-feira, junho 08, 2004

Os Banhistas (de Picasso)

'Contos de Verão' da editora Coolbooks é um livro com 30 histórias produto de um concurso para o qual o Coroneu gerou o conto cujas algumas passagens estão descritas abaixo. Vende-se na tenda dos pequenos editores da feira do livro de Lisboa. E a partir de hoje nas livrarias. O Coroneu e um amigo do Coroneu foram 2 dos 30 seleccionados. O amigo foi aquele com quem o Coroneu atravessou a costa leste dos EUA - mas isso é outra história.

(É o que provoca estar desocupado. Se continuar desocupado o Coroneu ainda escreve é um livro inteiro)

O narrador
"-Afoga-se!Afoga-se! - gritou o pequeno apontando na direcção de uma turbulência mesclada de braços, pernas e espuma a debaterem-se a cem metros da costa(...)"

O nadador salvador
"(...) o que não me faltam é amigas para levar ao meu apartamento, quer dizer, para o meu irmão levar ao apartamento dele."

O vendedor de gelados
"Olhe que eu ando há muito tempo na praia e nunca tinha visto tanta gente tão desorientada. (...) fiquei a olhar aquilo como o único sóbrio num bar de bêbados."

Uma mulher ca(n)sada
"O que vale é que as férias já quase terminaram e vou ter (...) três consultas por mês com o pediatra, que ao contrário do meu marido, dá atenção ao miúdo, fala-me com o charme de cinema antigo e explica-me maravilhas como a do iodo e do sol."

Uma mulher solteira (uma banhista de Picasso)
"Está bem que os homens são todos iguais mas há mulheres que não merecem os homens que têm.",

Um homem qualquer
"Conheci o húngaro na América do Sul (...) um suicida ameaçava rebentar a estrutura e abria o casaco a desvendar tripas de fios coloridos e bobines de cobre (...). O húngaro (...) bom apreciador que era do malbec chileno ou do cabernet sauvignon argentino (...) da boa marijuana ou scan ou pinillo do Paraguai ou Colômbia (...)."

terça-feira, junho 01, 2004

Um Momento num Concerto

O Coroneu foi ao concerto de Ben Harper and The Innocent Criminals no Rock in Rio, em Lisboa. O Coroneu gostava de Ben Harper mas, como um fã não praticante, não conhecia em profundo. Ficou a conhecer e a gostar ainda mais.

O melhor, o melhor mesmo para o Coroneu foi quando depois do concerto o Ben Harper regressou. Sentou-se com a guitarra ao colo, um ténue foco de luz sobre ele como nos quadros valiosos dos museus, e a primeira vibração de corda encheu o palco vazio, precipitou-se para a multidão e aquelas duas músicas tranquilas, quase silenciosas, voaram sobre os espectadores como anjos a fazer amor sem se tocarem. A vibração de Ben Harper sim, bastava abrir a mão sobre a cabeça para nos tocar. Ambiente mágico. Uma das músicas, se o Coroneu não se engana, era o Walk Away. No fim Ben Harper disse:

- I'm sorry for not knowing enough to thank you in portuguese. Estão aqui 30,40,50,6o mil pessoas e estava tanto silêncio como se estivessemos in my living room. I thank you for that.

O Coroneu tem a certeza que quase toda a gente, desde os que estendiam os isqueiros acesos, aos que escutavam a noite de olhos fechados pensaram

- Obrigado eu Ben. Obrigado eu.

Resumo (Muito) Minimalista da America do Sul

Os chilenos não gostam dos argentinos que gostam dos brasileiros que não gostam dos argentinos que não se importam muito com os bolivianos que desconfiam dos peruanos e dos chilenos e dos argentinos e dos brasileiros e dos paraguaios porque nunca ganharam guerras com ninguém e já as tiveram contra todos.

O Coroneu acha que quando arrumarem a casa,

(como o Chile está a fazer, como a Argentina vai fazer, como se espera que o Brasil faça)

os países da América do Sul, países de sucesso permanentemente adiado, podem começar a usar a sua própria loiça nova em vez de a guardarem apenas para as visitas dos países que veneram e a quem abrem a porta de casa nos jantares de cerimónia com o pedido

- Faça como se estivesse na sua casa.

O grave é que eles fazem. Sem cerimónia.

(O Coroneu pede desculpa aos Sul Americanos por falar como se vivesse, como eles, o dia a dia nesses paises)

segunda-feira, maio 31, 2004

Aca Non se Usa

O Coroneu permanecia em pé, com a mochila aos pés, de braço estendido e dedo espigado. De vez em quando passava um carro e levantava pó. Depois de um almoço improvável

(O Coroneu comprou metade de um pão ao dono de um hotel rural fora de época, à revelia de um furioso doberman solto)

ponderava as possibilidades de montar a tenda quando viu uma figura a caminhar no campo. Um homem chegou à estrada e atravessou-a a 100 m do Coroneu. O homem permaneceu em pé do lado de onde vinham os carros. Quando um carro passou o homem estendeu o dedo. Estava também à boleia, e prostrava-se como se tivesse chegado antes do Coroneu.

O Coroneu foi falar com o homem. Ao aproximar-se constatou que teria uns 40 anos. Ao expor com calma o caso
(piensa el señor que es justo...)
a resposta do senhor, depois de fazer de conta que não entendia o castellano de un extrangeiro, foi

- Usted estava primero? Bueno aca non se usa eso...

E como a discussão começou a aquecer e o Coroneu notou a mão do senhor a viajar com frequencia atrás das costas, lembrou-se também que tinha a sua própria faca de cozinha nas costas presa ao cinto como viu a alguns gauchos. Não que o Coroneu a usasse, mas serviria para a mostrar também.

Subito uma carrinha de caixa aberta passou e parou. Levou-os aos dois. Durante a viagem, na caixa aberta onde chibava o vento gelado dos 130km/h, o senhor disse que era chileno
(desde los 11 que estoy en Argentina pero soy chileno mi corazon es chileno)
e não respondeu a nenhuma pergunta sobre a Argentina. Em contrapartida exaltava a pátria chilena em cada curva. Era na verdade um senhor humilde, vivera sempre no campo. O Coroneu conheceu chilenos conscientes emigrados. Este senhor, apesar de humilde e porventura de bom coração, não era um deles.

terça-feira, maio 25, 2004

Sobre Livros

Após responder a uma solicitação sobre livros, o Coroneu transcreve para aqui alguns que gosta:

-Contos e O Tio Vânia, de Tchekov: qualquer conto, mas de preferência os mais curtos. Está lá tudo! O Tio Vânia é uma peça de teatro muito boa. Anton Tchekov sustentava a mãe e irmãos enquanto estudava medicina, com estes pequenos contos publicados em jornais. Com 23 anos. O Coroneu tem pena de não saber russo...

-Huckleberry Finn, de Mark Twain: Hemingway disse deste livro q "n havia nada antes, n haverá nada depois". Ainda hoje proibido em algumas escolas norte-americanas q acusam o livro de racismo. O livro retrata o racismo da altura do escritor e o dipolo civilização/natureza, usa vários sotaques sociais e geográficos nos diálogos e a história é q todos conhecem.

-Winnesbourg,Ohio, de S.Anderson: O Coroneu é um apreciador da geração perdida e este senhor com este livro influenciou reconhecidamente Scott Fitzgerald, Hemingway, James Joyce, W.Faulkner, Ford Maddox Ford... Fala de uma cidade e dos seus habitantes.

-Nick Adams Short Stories, The Sun Also Rises e Farewell to Arms: O Coroneu leu toda a obra de Hemingway, incluindo os artigos de jornal. O melhor são os contos com a percepção do estado de espirito da personagem.

-The Sound and the Fury: W.Faulkner trabalhava nos correios. S.Anderson garantiu-lhe que lhe publicava o seu primeiro livro se o nao tivesse que ler. Anos depois, decepcionado com a critica Faulkner escrevia este livro para ele próprio. Três irmãos têm diferentes formas de contar o que aconteceu.

-Rayuela, de Cortazár: Cortazár foi um argentino à frente do seu tempo pelas técnicas de escrita. Este romance usa a agora muito em voga recursão de tempo, alteração de personagens, etc,... E pode ser lido continuamente ou salteando capitulos indicados pelo autor, como no jogo da macaca (é o k significa Rayuela em castelhano). 2004 é o ano Cortazár na Argentina.

-Las Venas Abiertas de America Latina, de Galeano: Eduardo Galeano é um Uruguaio que percorreu toda a américa latina, trabalhou como mineiro, etc...Este livro é um ensaio social e politico que fala das razões q levam o continente a ser o q é hoje.

-Principezinho e Courrier Sud, Saint Exupery: Nem é preciso falar deste. O segundo foi o primeiro livro do autor e fala de duas pessoas q se querem bem mas... Quem dera ao Coroneu ter escrito estes livros :).

-Jonathan Livingston Seagull e The Bridge Across Forever, de R.Bach: O primeiro pq o Coroneu gostou muito qd era adolescente. O segundo fala do destino e de almas gémeas e é muito sincero e tão universal qt um livro o pode ser. Deve dar muito trabalho escrever livros tão simples.

-Manual dos Inquisidores, de Lobo Antunes: Este e os primeiros são muito expressionistas, nota-se sangue nos livros. Há quem não goste, o Coroneu gosta.

...
E muitos mais, o Coroneu podia estar um dia inteiro a falar disto, a acrescentar Corto Maltese por exemplo, mas já chega... Há é o medo de esquecer algum importante...

sexta-feira, maio 21, 2004

Imagem Inédita...

...do Coroneu.

O Coroneu, a mochila, a vara e a sombra deles

Foto algures na Patagónia.

quarta-feira, maio 19, 2004

No, no llores mas

"- Dime, qué comemos.
El coronel necessitó setenta y cinco años para llegar a ese instante. Se sintió puro, explícito, invencible, en el momento de responder:
- Mierda."

El Coronel no Tiene Quien le Escriba, Gabriel Garcia Márquez

O autocarro que levou o Coroneu ia praticamente vazio. Praticamente significa um par de viúvos animados partilhando histórias dos respectivos falecidos e outra argentina ao fundo que ia sempre a dormir, ou assim parecia porque jamais tirava os óculos escuros. Na parte de baixo apenas o condutor e o assistente que distribuia as refeições e se encarregava dos vídeos. Era um confortavel autocarro de dois andares. E muitas horas até Buenos Aires.

A meio da viagem o autocarro parou meia hora no terminal de uma cidade grande que o Coroneu não conseguiu identificar. O par de viúvos bem dispostos acomodaram-se numa mesa a tomar café. O Coroneu foi levantar dinheiro. A máquina multibanco era adjacente a uma cabine telefónica, onde entrou a argentina dos óculos escuros.

Apesar da hermética construção da cabine o constrangido Coroneu ouviu o grito da argentina antes de desligar o telefone.

(Cabron de mierda hijo de puta que juro que vuelvo e ya no me vas a ver mas)

Depois saiu da cabine e acendeu um cigarro. Foi falar com o motorista que acomodava as bagagens. Entrou nas bilheteiras do terminal e voltou ao motorista. O Coroneu sentou-se a tomar café numa mesa ao lado dos viúvos que riam.

Através da vitrine viu a argentina mudar a bagagem para outro autocarro. O outro autocarro voltava de Buenos Aires com destino à pequena cidade de onde tinhamos saído. A argentina voltava para trás. E sem nunca tirar os óculos.

terça-feira, maio 18, 2004

Não é Destino, é Viagem.

"Durante cincuenta y seis años - desde quando terminó la última guerra civil - el coronel no habia hecho nada distinto de esperar. Octubre era una de las pocas cosas que llegaban", El Coronel no Tiene Quien le Escriba, Gabriel Garcia Márquez

Depois dos primeiros 30 minutos em direcção a Buenos Aires, o autocarro encostou à berma. O Coroneu foi ver à grande janela da frente. Parado diante do autocarro, um carro parado mantinha as 4 luzes a piscar. Um senhor que não chegara a tempo queria entregar uma encomenda.

(Para mi hija que estudia en la capital federal... Le gustará mucho)

O condutor e o assistente pareciam conhecer o senhor. Tinha um caixote enorme que ajeitaram junto das outras bagagens.

(Para mi hija que estudia en la capital federal... Le gustará mucho)

O senhor tinha feito 50 km para entregar o caixote enorme. Despediu-se e o autocarro continuou enquanto o fiat voltou para 50km atrás. Quando no outro dia chegou a Buenos Aires os gritos felizes de uma estudante recordaram da encomenda ao Coroneu. A estudante agradeceu ao motorista e saiu da estação radiante com o caixote nos braços.

(Para mi hija que estudia en la capital federal... Le gustará mucho)

O Coroneu não sabe o que estava dentro do caixote para além da felicidade da filha do senhor. A felicidade não parece ser um destino definitivo, mas uma viagem. Para o senhor uma viagem de 100km. Ele sabia que valia a pena uma hora de carro. Parece que às vezes, mesmo que o autocarro já tenha partido, vale a pena.

segunda-feira, maio 10, 2004

I Guess I Was Moved by His Gentle Way (a true love and death story full of non-spook but understandable feelings)

“(…) verdad que en primavera
suena mi nombre en tus oídos
y tú me reconoces
como si fuera um río
que pasa por tu puerta?”,
Las Uvas e El Viento, Pablo Neruda

O Coroneu esperava um autocarro que não chegava nunca para finalmente sair do que parecia ser a cidade mais cara da América do Sul. O autocarro chegou e ainda mais atrasada que o autocarro chegou uma americana alheada. Os americanos distinguem-se pela pronúncia, pela brancura da pele e pela atitude que a maioria tem. São simpáticos. Esta americana entrou a olhar para o chão e sentou-se ao lado do Coroneu, pôs os phones e alheou os olhos contra o vidro.

“Do you have a cigarrete?”, perguntou ao Coroneu. “O que eu não dava por um cigarro”.
“Não podes fumar aqui dentro”.
“Are you european?”. Depois do Coroneu lhe ganhar confiança com bolachas de aveia e evitar perguntas directas, contou a história.

Viajava há dois meses quando o namorado americano lhe disse por telefone que já não eram namorados. Entretanto ela conhecera um domador de cavalos em Cuzco e passaram “one hell of a wonderfull week”. Finalmente o namorado americano atendeu-lhe o telefone e tentou pedir desculpa mas na primeira oportunidade ela relembrou-o que já não eram namorados antes de desligar o telefone. Continuou dois meses com o peruano e atravessaram a fronteira. Até entender que ao peruano domador de cavalos lhe interessavam as americanas, as australianas, as brasileiras… até por fim a abandonar em San Pedro de Atacama por uma sueca.

Ela comprou o bilhete do autocarro e antes de seguir telefonou ao namorado americano. Da casa dele desligaram quando ela se identificou. Telefonou para a irmã. O seu ex-namorado americano teria desistido da universidade, engravidado uma rapariga, a rapariga teria abortado. Encontraram-no morto com um tiro, suicídio.

“He always said ‘You can count on me’ when I was in troubles. E eu sempre contei com ele sempre”, disse a americana antes de repôr os phones e refugiar-se na janela.

“Não entendo como desperdicei tempo com este peruano”, disse ela, “Three months...".
“I guess I was moved by his gentle way”, disse ela olhando pela janela.

segunda-feira, maio 03, 2004

Um dia de cão...

... devia significar um dia agradável.
Não trabalham até tarde, dormem o tempo que querem, fazem companhia, obedecem ao dono que adoram, nunca atraiçoam nem são por natureza maliciosos...

O Coroneu acha que há talvez um país no mundo onde um dia de cão tenha conotação positiva.
Talvez na China...

sábado, maio 01, 2004

Um almoço fora de casa

"Ay Patria, sin harapos,
ay primavera mía,
ay cuándo
ay cuándo y cuándo
despertaré en tus brazos
empapado de mar y de rocío.",
Las Uvas y El Viento, Pablo Neruda

Tinha o Coroneu acabado de conhecer o turco, no templo de Tiwanacu, quando foram almoçar com duas senhoras austriacas e um casal britânico.

Uma das senhoras austríacas sofria de dores no pé direito engessado. Tinha-o torcido simplesmente a andar. Durante o início da manhã todos esperavam pela senhora, que caminhava devagar. Depois o guia saturou-se e passaram a esperar por ela no final das explicações. A outra senhora austríaca tinha uma memória excelente. Aconselharam visita ao oásis do deserto no sul do Peru, onde o pé direito foi torcido. O Coroneu não percebeu se eram irmãs mas davam-se muito bem.

O casal britânico tinha 2 pares de olhos azuis muito parecidos. Eram os dois consultores. Tiraram férias de um ano, para viajarem juntos. Ambos tinham viajado muito em separado antes e eram por isso experientes em transportar a casa na mochila. Mostraram fotos de sobrinhos e do casamento de um amigo em comum a que não foram porque há 8 meses que não iam a casa. O Coroneu perguntou que parte do mundo tinham gostado mais e ambos sorriram e disseram que era a pergunta mais difícil e a mais frequente. No entanto destacaram Tailândia e Vietnam. Ela lembrava-lhe e preparava os medicamentos para depois do almoço dele, ele tinha a água desinfectada num recipiente próprio para os dois. O Coroneu gostou mesmo da sinergia.

Depois de almoço, o turco contou os doláres para pagar e o resto pagou em bolivianos. Todos tomaram café e ficaram a falar das diferenças entre os países.

Todos concordaram que tinham muitas saudades de casa.

quarta-feira, abril 21, 2004

Olhos nos olhos

Nem llamas nem vicuñas, nem guanacos nem alpacas.
Nem gatos nem cães.
Nem raposas nem lobos.
Nem chinchilas nem castores.
Nem aves de rapina nem passarinhos de gaiola.
Nem cavalos nem pilecas.
Nem macacos nem tucanos.
Nem tamanduás nem pumas.
Nem veados nem quero-queros.

Nenhum animal do mundo consegue manter por muito tempo os olhos nos olhos do Homem. Acaba por desviar.
É um facto simples mas verdadeiro.

terça-feira, abril 20, 2004

Do Amor em Tempo de guerra

3 do amor...





1 em Tempo de guerra...



Moral: nem sempre (mas quase sempre) o amor é positivo e nem sempre (mas quase sempre) a guerra é negativa.

terça-feira, abril 13, 2004

CATCH!

“(…) bajo la coartada de la modernidad, el experimento, la búsqueda de ‘nuevos medios de expresión’, en verdad se documentaba la terrible orfandad de ideas, de cultura artística (…) que caracteriza a buena parte del quehacer plástico en nuestros días.” El Lenguaje de la Pasion, Caca de Elefante, Mario Vargas Llosa.

Ao passear na Avenida Corrientes em Buenos Aires o Coroneu caiu na armadilha de entrar num dos teatros para ver um espectáculo a la gorra. O espectáculo foi sem duvida moderno, sem duvida chocante, sem duvida contra a moral imposta numa sociedade globalizadora e de costumes hipócritas e etc… E sem duvida que o Coroneu nao gostou do espectaculo.

Sob o risco de ser considerado complexado, ortodoxo ou de gostos atavicos o Coroneu explica o teatro numa frase para depois explicar noutra frase porque nao gostou.

Catch tem um ringue no centro do palco – que o Coroneu gostou porque ser mulher nao deve ser facil –, cerca de 10 mulheres despidas de roupa desportiva - uma delas de 70 anos que entra ocasionalmente – e um unico actor que interpreta uma transexual, e durante o espectáculo as personagens cospem-se continuamente umas nas outras, beijam-se continuamente umas as outras, despem-se em palco, agridem-se continuamente fisica e emocionalmente, numa das cenas o actor e uma das actoras urinam nus no palco e quase no final fazem essa caracteristica muito na moda que e interagir com os espectadores, com a particularidade de o fazerem atraves do actor e de uma actriz correndo nus entre as cadeiras, o que afugentou do teatro umas 10 pessoas.

O Coroneu nao gostou porque os dialogos e a historia nao sugeriam necessidade de nudez, nem de urina no meio do palco – que assim adquiriram caracter gratuito - e porque o espectador nao deve ser molestado em questoes tao particulares como a sua sexualidade a nao ser que seja avisado antes da peca – nada no cartaz explicita a interaccao com pessoas nuas. O Coroneu louva antes de mais a liberdade de expressao na sociedade de Buenos Aires e a coragem das actrizes – houve actrizes que desistiram e foram substituidas, a actriz mais musculada fazia luta profissionalmente e entrou nesta segunda peca, a primeira foi um espectáculo para criancas.

Por isso o Coroneu gosta de teatros que nao se assemelham a bailados tristes e que
(sobretudo, sobretudo)
possuem uma historia lirica e visual complementares e filhas de uma imaginacao fértil e inteligente. Por isso, sob o risco de ser considerado complexado, ortodoxo ou de gostos atavicos o Coroneu reafirma que nao gostou do teatro.

Gostou da liberdade de expressao da sociedade porteña que – ao contrario do que aconteceria nos EUA e na maior parte da Europa, Portugal incluido - nao levantou polemicas nem anunciou como escandalo este espectáculo praticamente pornografico em nenhum dos 5 canais de TV de Buenos Aires. E ha ainda quem insiste em generalizar o termo terceiro mundo a América Latina…

Acorda p'ra vida

O Coroneu repousava na varanda de uma pousada onde entrava um sol projectando a sombra da janela pelas paredes do quarto. Repousava o Coroneu sem pensar em nada apreciando aquela singularidade que o sol e a lua tem de desaparecer rapidamente quando se acercam do horizonte. Neste caso o sol.

O Coroneu fechou os olhos e imaginou as pessoas com quem gostaria de estar naquele momento. Quem sabe se fechar os olhos, quem sabe aparece alguem de repente como num aniversario surpresa. Que sensacao agradavel.

O Coroneu adormeceu.
Quando acordou quase lhe tinham roubado a maquina fotografica.

domingo, abril 11, 2004

Brasil outra vez

Desde que descobriu o Brasil que o Coroneu pensa que o Rio nao e Brasil e Sao Paulo nao e Brasil e Nordeste nao e Brasil e que o Brasil nao e um pais sao muitos paises ordenados por um senado que de Brasilia administra o Brasil-Rio, o Brasil-Nordeste, o Brasil-Sul...

O Brasil nao tem nada que seja o melhor do Brasil, na opiniao do Coroneu, o que demostra a riqueza que o Brasil tem. E que o Brasil tem muito que e o melhor do Brasil.

Este ano o Coroneu trocou a festa do carnaval pela exploracao da Patagonia. O Coroneu conseguiu cometer a proeza de, estando pelo segundo ano consecutivo na America do Sul, falhar ao Carnaval do Rio de Janeiro e de Sao Salvador da Bahia. Deve ser - concerteza que e e se nao e devia ser! - um crime contra a Humanidade portanto o Coroneu agradece que se mantenha em sigilo, por favor. Ja basta a tipica consciencia pesada de um criminoso malogrado. Obrigado.

sábado, abril 10, 2004

Pausa para o Rio

"(...) esa respuesta desvergonzada (...) a las razas, a las clases, a los individuos, en una fiesta que todo lo iguala y lo confunde (...) aquel "mundo al reves" del poema de Jose Goytisolo, donde los mendigos son felices y los millonarios desdichados, las feas bellas y las bellas feisimas, el dia noche y la noche dia, y donde el abajo triunfa sobre el arriba humano e impone su rijosa libertad(...)"., El Lenguaje de la Pasion, La Ereccion Permanente, Mario Vargas Llosa.

A citacao acima refere-se ao Carnaval no Rio de Janeiro, que o Coroneu nunca experimentou a cores e ao vivo.
Copacabana, princezinha do mar
No entanto ha dias o Coroneu fez uma pausa, apanhou um aviao - o unico desta viagem - e foi ate ao Rio de Janeiro, por razoes que a propria razao desconhece.
Copacabana, princezinha do mar.

Uma das cidades que pode ser a melhor do Brasil e o Rio de Janeiro. Porque?
Moca do corpo dourado, do sol de Ipanema
A paisagem natural com o Corcovado a equilibrar um Cristo Redentor omnipresente, o Pao de Acucar e o Morro da Urca como duas bossas de um animal simpatico que descanca, o trajecto cuja ordem o Coroneu sempre baralha Sao Conrado-Leblon-Ipanema-Copacabana-Leme-Botafogo-Flamengo-Guanabara e por ai fora, a lagoa, a ponte para Niteroi... E depois as perolas que o Coroneu foi aprendendo... a feirinha de Ipanema, passeio pelo calcadao, avenida atlantica, feira de sao Cristovao, mergulho nas cagarras, Sambodromo com capacidade de 65/70 mil espectadores, o centro de ruas de baixa, subir a pedra bonita de onde o Coroneu ha-de arranjar coragem para um dia voar de asa delta...
Moca do corpo dourado, do sol de Ipanema
E tantas outras coisas que o Coroneu ainda ha-de ver mais, ha-de ver... Como a Cidade do Samba que esta a ser construida...

Mas o melhor, o melhor sao as pessoas. E o ambiente descontraido, a proximidade com as praias, que pelo menos para um turista transmite paz, muito paz e tranquilidade.
E a musica. Axe, Samba, Chorinho, MPB, Bossa Nova...

"Copacabana, princezinha do mar (...)",
"Moca do corpo dourado, do sol de Ipanema, (...)"

As pessoas que tiveram a sorte de viver um tempo no Brasil e dessas as que tiveram o previlegio de experimentar o Carnaval no Rio ou em Salvador da Bahia, voltam para casa com a melancolia da chuva de Marco e a pensar voltar, quem sabe, no ano seguinte... O Coroneu tambem...

"Para tudo se acabar na quarta feira..."

"Brasil, meu Brasil brasileiro
Meu mulato inzoneiro
Vou cantar-te nos meus versos
O Brasil, samba que da
Bamboleio que faz ginga
O Brasil do meu amor
Terra de Nosso Senhor
Brasil! Brasil!
Pra mim... pra mim...(...)"
, Aquarela do Brasil, Ary Barroso

quarta-feira, abril 07, 2004

Viajar nao e so andar

"Viajante, nao ha caminho, o caminho faz-se ao andar"

Quando se viaja nao se sai do mesmo lugar. A nao ser que a pessoa queira. Mas se a pessoa quiser pode sair do seu lugar sem viajar. Viajar nao e condicao necessaria nem suficiente. Viajar e so um dos muitos modos de se sair lugar. E para quem gosta e sabe e o melhor dos modos. E nao precisa de ser sozinho, e melhor se acompanhado de outra pessoa que tem a mesma percepcao acerca de viajar. Que saiba que viajar nao e so acumular milhas.

sábado, abril 03, 2004

Overman

O Coroneu dedica este ao Morruga e outros potenciais leitores sedentos de noites de sexta:



Este a leitores/as que nao sabem se sao leitores ou leitoras:



E este a potenciais leitoras sedentas de vinganca (que nao e boa e envenena a alma):


Laerte

quarta-feira, março 24, 2004

A Bandeira Branca

O Coroneu chegou ao ultimo lago. O lago tem um nome Mapuche como quase todos os lagos por aqui. Chama-se Huechulafquen. Lafquen significa lago e Huechu significa ponta. Porque o lago e angulado como uma flecha que se vai estreitando.

Os Mapuches eram uma das tribos do norte da Patagonia. Eram porque foram quase exterminados pelas campanhas de conquista de terras para a grande patria Argentina. Hoje os responsaveis por esse exterminio - ou pela conquista de terras para a grande patria Argentina - sao herois da nacao, tem esfinge nas notas e emprestam nome a cidades. Entretanto os Mapuches sobrevivem, com um idioma proprio e tradicoes que preservam.

O Coroneu, depois de caminhar 1h ao longo do lago, chegou ao ponto de travessia. A assinalar, uma cana enorme com uma bandeira branca na ponta flutuava com o vento forte. Eram umas 18h e o Coroneu tinha de achar acampamento antes que anoitecesse. O Coroneu poisou a mochila, desprendeu a cana e passou uns 20 minutos a abanar o pano branco sem ver ninguem.

Ate que do outro lado do lago, a descer a colina onde estava a chacra, um cavalo a galope com o Mapuche mais pequeno. Depois de prender o cavalo, atravessou o lago num bote para buscar o Coroneu. Este Mapuche estuda turismo na faculdade mais proxima, veio o Coroneu a saber quando mais tarde falaram de Paulo Coelho, Vargas Llosa, Hemingway (que o Mapuche baixava da internet) da Patagonia e dos indios. A travessia sao 2 pesos (110$) e a estadia no acampamento outros 2 pesos, por noite.

Durante a noite um cao - para variar - fez companhia ao Coroneu a troco de jantar e rosnou varias vezes a noite quando os cavalos selvagens desceram da colina para beberem agua do lago. O Coroneu ouvia-os rodearem a tenda.

De manha a travessia de volta pela canoa. Depois 18 horas de autocarro ate Buenos Aires, a capital da grande nacao Argentina onde se entra muito facilmente. Ja para entrar na Chacra dos Mapuches, um branco teve de abanar uma bandeira branca por 20 minutos. E o Coroneu acha bem.

OBS:O Coroneu adverte que acampar 2 semanas na regiao dos 7 lagos da Patagonia Argentina e uma especie de canto de sereia a Ulisses e pode fazer um gestor, administrador ou economista abandonarem o fato e a gravata num cabide orfao e dedicarem-se para sempre a pesca com mosca, ou a cacar cavalos selvagens entre a fronteira imposta pelos Andes, Chile-Argentina.

sábado, março 13, 2004

As vezes, à noite

As vezes a natureza molda-nos como um pedregulho nu. As vezes um vulcao a derreter no cimo (Lanin) resgata-nos o pensamento da paisagem monotona ou adormece-nos a mare de um lago tranquilo (7 lagos) quando as vezes lhe da o vento.

As vezes surpreendemo-nos quando sem luz - porque a lua apesar de cheia ainda nao nasceu - armamos uma tenda tao bem e as vezes apesar da chuva e do frio e da solidao de um chao vazio surpreende-nos pensar que nao desejavamos estar noutro lugar. As vezes alegria é quando em desespero se consegue acender um lume de lenha ensopada. As vezes tudo o que ha para comer - torradas com café - sabe a boda de casamento feliz.

As vezes um homem esta com a tenda frente a um lago cavado nas montanhas, enquando alimenta de lenha uma fogueira e suspende a sua chavena de cafe fervido, a pensar nas noticias do louco mundo civilizado la tao distante, mais distante que o horizonte de onde nasce agora a lua.

E as vezes, esse homem concorda com a resposta do escritor (Antonio Lobo Antunes) quando numa entrevista lhe perguntaram se acreditava em Deus: "As vezes, à noite".

quarta-feira, março 10, 2004

Onde esta o Coroneu

(sobre os 7 lagos)"La mirada superficial tendida sobre el paisaje capta apenas su uniformidade aburrida sin llegar a ahondar en el espiritu mismo del monte, para lo cual se necessita estar varios dias en el lugar", Mi Primer Gran Viaje, Che Guevara.

Informam-se potenciais interessados que o Coroneu esta aqui.
Depois de comprar uma tenda em segunda mao por menos de metade do preco, o Coroneu embrenha-se na regiao dos 7 lagos da Patagonia onde acampa continuamente, exposto ao sol, a chuva ao vento e a hellada que ja se nota.

Ao contrario do que se diz na imprensa especializada, a opcao do Coroneu e alheia a motivos de exilamento politico apesar do suposto recem abalo de democracia no pais do Coroneu.

sexta-feira, fevereiro 27, 2004

Excentricidades

O Coroneu, nestes tempos de viagens a sos consigo proprio
(o Coroneu e ele proprio dao-se bem, falam-se de vez em quando e descobrem ate gostos em comum)
deixou crescer um fio de barba a contornar a linha que vai da orelha ao queixo.

A vantagem, alem de um obvio respeito, e que o Coroneu assim pode andar pelas zonas mais perigosas das cidades onde se encontram os alojamentos mais baratos e o cerne verdadeiro dos nativos, que e o que interessa ao Coroneu.

Com a barba assim, o Coroneu gosta de se comparar a um X-men, mas atitudes mais de picardia preferem a imagem de um estiloso artista de rap negro. Nao por ser negro, mas por tudo o resto. E porque todos os negros artistas de rap
(O Coroneu gosta de rap e acredita que so ha negros a cantar bom rap)
ou nao tem barba ou tem barbas diferentes.

X-men, ou cantor de rap, o respeito e obvio e o Coroneu bem o ve reflectido nos bebes que de mao dada apontam o dedo livre, na rua, atrasando o passo rotineiro de um pai barbeado.

quinta-feira, fevereiro 26, 2004

O Deserto mais Arido do Mundo

"En estas pampas de una aridez absoluta (...) realmente impressiona el pensar que por estos lados cruzo Valdivia con su puñado de hombres, recorriendo 50 o 60 km sin encontrar una gota de agua y ni siquiera un arbusto para guarecerse en las horas de mas calor", Mi Primer Gran Viaje, Che Guevara.

O deserto mais arido do mundo e aquele com menor precipitacao por ano. E o deserto de Atacama no norte do Chile.

A cidade base e San Pedro de Atacama, uma aldeia cuja totalidade de casas sao construidas em adobe que e um tijolo de argila seco naturalmente ao ar livre. Por sobre a aldeia, de todo o lado se ve, aparentemente proximo, o cume derretido de neve dos vulcoes andinos que separam o Chile da Bolivia.

O que se faz no deserto mais arido do mundo? Acorda-se as 4 da manha para ver os geisers, alugam-se bicicletas ou pranchas de sandboard ou sai-se as 4 da tarde para um passeio aos Valles de la Muerte e de la Luna, antigos fundos do mar convertidos em paisagens opalescentes de vermelhos e pratas capazes de fascinar qualquer ceptico.

O Coroneu viu o tradicional por do sol depois de caminhar sobre a duna, no Valle de la Luna - tao tradicional como ver o por do sol em Key West, EUA, mas muito mais impressionante porque o mar se sente mas nao esta la.

Pela noite o Coroneu viu as estrelas e planetas explicadas pelo frances Alain, cientista cujo trabalho antecipa a instalacao do maior observatorio do mundo pela ESO. Estrelas cadentes, os aneis de Saturno, nuvens de Magalhaes... O Coroneu so ficou triste de nao ver Escorpiao, considerada por muitos a mais bonita constelacao do hemisferio sul.

Uma semana depois, quando o Coroneu voltou a vida, viu no jornal portugues um anuncio para engenheiros.
Para a ESO. Para construir o maior observatorio do mundo. Onde? Dizem que e a 120 km de Antofagasta, mas o Coroneu identificou e sabe. E em San Pedro de Atacama, no norte do Chile. No deserto mais arido do mundo.

"Por la noche (...) mirabamos el mar inmenso (...) apoiados en la borda, pero cada uno muy distante, volando en su proprio avion hacia las estratosfericas regiones del ensueño. Ali comprendimos que nuestra vocacion, nuestra verdadera vocacion, era andar eternamente por los caminos y mares del mundo", Mi Primer Gran Viaje, Che Guevara.

Cha no Deserto

"Pero cada vez que hablabamos de irnos, el medico decia moviendo la cabeza: 'Para las gripes, cama' ", Mi Primer Gran Viaje, Che Guevara

O Coroneu chegou ao deserto de Atacama com infeccao dentro do intestino, falta de apetite e a cada 3 passos uma vontade cada vez maior de dormir. Nao foi por causa da aridez do deserto, foi por causa - supoe o coroneu - do pisco de Lima uma semana antes, que andou a rondar a rondar ate achar o momento certo para dizer "estou aqui".

(O Pisco e uma bebida disputada entre o Peru e o Chile, para a bebida nacional. O Coroneu acha que o Peru e o Chile, se deviam juntar e oferece-la a Bolivia, que de qualquer das formas ja come coisas que nem o Diabo...)

O Coroneu chegou a San Pedro de Atacama que e a plataforma de exploracao do deserto e uma das cidades mais caras do Chile e portanto muito conveniente para o Coroneu convalescer 4 dias e pagar o dobro que pagaria noutra cidade qualquer.

O que valeu foi o medico cujos olhos perguntavam ao Coroneu "Tem dolares? Tambem pode pagar em dolares, se tiver dolares aceito dolares", e o brasileiro que estava ha espera de um mecanico para continuar de moto e que entretanto divertia o Coroneu com relatos quase tao divertidos como os do proprio Coroneu.

E o cha de coca, claro, que se bebe por estes lados.
Cha de coca, entardecer e o deserto a tremer de calor do dia e de frio da noite...
"Cha no deserto", pensava o Coroneu, "amanha talvez esteja melhor", pensava o Coroneu.

terça-feira, fevereiro 24, 2004

Sonho de uma noite so.

Estava o Coroneu na cama quando um anao puxou o lencol e disse "espreita aqui" e o Coroneu olhou debaixo da cama e estava um dragao de olhos vermelhos que engoliu o Coroneu o qual se viu num tunel com muito calor e caiu numa planicie cheia de estrelas parecidissima com o deserto de Atacama.

A sorte e que caiu cerca de um vulcao que o Coroneu escalou em 5 horas antes de mergulhar na cratera que era um caldeirao de sopa mexido por um dos ciclopes de Ulisses com uma colher gigante e ao cair no caldo quente foi cuspido outra vez para a cama pelo candeeiro da cabeceira.

O Coroneu acordou na cama cheio de febre que passou 2 horas depois.
Devia ter sido ou do vulcao que era quente ou da candeeiro que tinha a lampada acesa...

Peru bom, pero...

O Peru e um pais bonito, cheio de Historia viva de civilizacoes perdidas de proposito e achadas sem querer.

E mais turistico que a Bolivia, esta cheio de franceses que dizem Perru e de americanos sociologos e arqueologos que,
como em todos os paises de Historia viva
lideram com os profissionais nativos as diversas escavacoes e descobertas.

O presidente do Peru que se chama Toledo sucedeu a Fujimori e tem apenas 7.5% de populacao que gosta dele. O resto dos peruanos estao desejosos de o mandar para casa e por exemplo em Arequipa o Coroneu teve de esperar que a huelga geral do pais passasse para os autocarros comecarem a sair em seguranca da cidade, sem serem apedrejados.

Aproveitou para visitar um museu que tem a menina Inca Juanita, a mumia melhor conservada do mundo, achada por um antropologo americano no topo de um vulcao. Mas isso e outra historia...

segunda-feira, fevereiro 16, 2004

A Civilizacao antes de Colombo

Antes de Colombo viviam em paz - mais ou menos, mais ou menos - os Aztecas, os Incas e os Maias. Os Aztecas e os Maias na America Central. Na America do Sul, os Incas.

Na regiao dos Andes, muito antes dos Incas apareceram outras civilizacoes, que o Coroneu veio a saber;

A mais antiga que se conhece e a Chavin de Huantar (850 A.C. - 200 A.C.). Regiao norte/centro do Peru.

Depois o povo de Paracas (600 A.C. - 200 A.C.). Costa sul do Peru, que o Coroneu visitou. Paracas e hoje cidade estival de onde se apanham barcos p ver elefantes do mar. O Coroneu viu um morto, abandonado na costa da praia de Paracas ja ressequido pelo sol, a pele amarela. Ha mais publicidade e tours as praias que a esta civilizacao pioneira na 'cirurgia craniana'.

Da cultura Nazca (100 A.C. - 1000 D.C.), a poucos km de Paracas, conheceu o Coroneu muitos artefactos alem das linhas vistas de um Cessna de 4 lugares a 2300 km de altura. Ha uma linha que desenha um macaco que so existe a mais de 1000 km da regiao, na selva. A maioria das linhas convergem para uma montanha que cobre um importante lencol de agua, muito muito importante na pampa arida do Peru.

A cultura Moche (50 D.C. - 600 D.C.), na costa norte do Peru, desapareceu sem se saber porque. E so mais um misterio repleto de teorias e carente de explicacoes. Construiram 2 piramides sobre os respectivos terracos dedicados ao Sol e a Lua.

Os Tiwanacu (sec.VII - sec.XII), surgiram no altiplano boliviano, junto ao Lago Titicaca. A menos de 1h de La Paz o Coroneu visitou a Puerta del Sol, simbolo hoje da Bolivia - pais mais tradicional e pobre da America do Sul. Os Tiwanacu inovaram no campo da arquitectura, usando grampos de cobre para unir blocos de pedra na perfeicao. Tambem estudaram os astros e a propagacao do som. Nos solesticios as sombras dos cantos dos templos dao um expectaculo as centenas de pessoas que assistem todos os anos... So vendo...

Os Huari (sec.IX - sec.XIII), tambem no altiplano andino, sao curiosos porque deram inicio ao declinio das construcoes religiosas em previlegio das residenciais, nao descurando totalmente os centros cerimoniais. Sacrificios de lamas e coisas assim...

O Imperio Chimu (1350 - 1470), litoral norte do Peru, considerado o ultimo Imperio pre-inca. A particularidade e que quando o chefe morria o sepultavam no centro da aldeia, que era lacrada e abandonada.

Por fim, os Incas (1110 - 1530) absorveram sem eliminar o melhor de cada cultura que conquistaram. Alastraram um Imperio dedicado ao Sol a partir de Cusco, capital a 6 dias de caminho de Machu Pichu. Adornaram-se de joias de prata e ouro, construiram canais e terracos para agricultura em encostas e dominaram territorios do Equador, Peru, Bolivia e Chile.

Ate a chegada de Francisco Pizarro que eliminou sem absorver o melhor de cada cultura que conquistou. A febre do ouro e do El Dorado...

As ilhas do Titicaca

Ha em Puno, cidade na parte peruana do lago Titicaca - o mais alto navegavel do mundo - uma tribo de pessoas que vivem em comunidade sobre ilhas flutuantes.

As ilhas sao feitas de umas plantas que crescem no proprio lago - Totora. Tambem com as plantas, os Uros constroiem casas, escolas e confeccionam alimentos. Os dentes dos Uros sao perfeitos e diz a lenta que tem sangue preto e 1L a mais que o resto das pessoas.

O Coroneu provou a Totora, que parece um junco e se descasca como uma banana.

Os Uros de hoje sao uma mistura de sangue e vivem muito na base do turismo. Cada ilha - ha umas 5 - tem um presidente, que na altura que o Coroneu la foi, estava a dormir a sesta.

Os Uros parecem viver felizes, nao gostam de guerrilhas e estao sempre a sorrir. Enfim, parece ser possivel...

quinta-feira, fevereiro 12, 2004

Elogio inusitado ao McDonald's

Ao contrario de todos os outros restaurantes, onde para ir ao WC tem de se pedir a chave no balcao, o McDonald's mantem altos padroes de qualidade, nunca falta o papel e esta sempre limpa... e nao e preciso pagar.

O Coroneu agradece ao McDonald's nestes tempos dificeis. Mais acrescenta que fica sempre feliz quando ve uma cidade com McDonald's porque ja sabe que mais cedo ou mais tarde passara por ali.

Comer la e que nem por isso...

quarta-feira, fevereiro 11, 2004

Todos os homens sao maricas quando estao com gripe

Diz a letra da cancao. Mas nao o Coroneu, ate porque o Coroneu nao tem gripe, o Coroneu nao adoece e nunca fica de cama. O Coroneu e a pessoa mais resistente que ele proprio conhece e nem ressaca tem.
(Mas que sabia bem um cha, uma manta e alguem bem conhecido ao pe... isso fazia.)

Do Suico evangelico

"(...)Cre o Coroneu que respeita quem defende no que acredita. Nesse dia, ao entrar no autocarro o Coroneu pensou 'boa, um estrangeiro ao meu lado'. Identificou o estrangeiro pela cabeleira branca, uns 56 anos. A cabeleira branca afinal pertencia a um suico - outra vez os suicos - pastor evangelista que ate ao fim das 8h de viagem nao desistiu de evangelizar o Coroneu.

'Agnostico? O que é isso de agnostico?'. Ah, por momentos deu treguas ao Coroneu... Foi quando se levantou e gritou para os passageiros 'Peruvianos, yo vengo al Peru trazer-lhes uma mensagem! Yo soy gringo ya? E ustedes pensam que eu tenho dinheiro! Nao é dinheiro que lhes trago, e uma mensagem mais rica!'.(...)"

Do Turco e outros viajantes, conversas com o Coroneu

Do Turco que tambem conheceu o Corto

"(...)'Um dia as pessoas todas trabalharao 4 horas e terao dinheiro e tempo para viajar', dizia o Turco, 'Nao sou eu que digo, é Einstein e Karl M., é o universo redondo que o diz, tudo tem um equilibrio e uma volta e uma sinopse perfeita acabaria assim, e eu acredito num equilibrio do universo, é como as mulheres bonitas. Tu nao acreditas?'. E o Coroneu respondia fascinado 'yes, yes, offcourse', sem fazer a minima ideia do que falava o Turco.

O Turco encontrou-se com o Coroneu numa visita as ruinas de Tiwanacu, onde calhou falarem de um amigo em comum - Corto, esse bastardo imundo.(...)"

Do Turco e outros viajantes, conversas com o Coroneu

Do Ingles

"(...)O ingles era nabo. Nao era nabo por ser ingles, se bem que ponderando, talvez isso seja uma vantagem para se ser nabo na America do Sul. Era nabo pq viajava ha 6 meses e falava tao espanhol como uma couve roxa.

Caiu na asneira o Coroneu de viajar com o ingles nabo e teve o que mereceu - na primeira noite o nabo trancou o quarto com a chave la dentro pq bateu a uma porta de casa de banho a perguntar em ingles se o Coroneu tinha a chave e sabe-se la quem la estava respondeu 'Si, si'.(...)"

Do Turco e outros viajantes, conversas com o Coroneu

Dos Suicos

"(...)E os Suicos, na vespera do Pantanal, entraram com o Coroneu no bar de Bonito onde descobriram que gostavam de caipirinha e de Taboa, o nome do bar e de uma bebida feita de cachaca. Descobriram que estava calor dentro do bar e depois decidiram que os brasileiros sao muito afaveis e simpaticos e descalcaram as botas.

Antes de virem embora, tabelando com os postes da luz como uma bola de flippers descobriram que as botas tinham sido roubadas. Sem problemas, no outro dia - 2 h depois - foram descalcos com o Coroneu para o acampamento no Pantanal onde mais tarde decidiram desafiar um boiadeiro a beber cada um a sua garrafa de cachaca. Uns doidos simpaticos estes suicos.(...)"

Do Turco e outros viajantes, conversas com o Coroneu

segunda-feira, fevereiro 09, 2004

O Coroneu se quer um taxi estende o braco

Vem o Coroneu pedir, por favor, para alguem tirar as buzinas dos taxis da Bolivia e do Peru, q estao sempre
bip bip bip bip bip bip bip....
Mais acrescenta o Coroneu que estes paises considerados subdesenvolvidos nao o sao pela falta de trabalho nem pela diferenca de salarios nem pela corrupcao dos politicos.
Serao subdesenvolvidos sim por causa do
bip bip bip bip bip bip bip....
dos taxis, noite e dia a chamarem a atencao dos potenciais clientes.
Estes
bip bip bip bip bip bip bip....
nao deixam ninguem pensar, incentivam a falta de trabalho, motivam a diferenca de salarios e provocam a corrupcao dos politicos.

Bip bip bip...

a todo o dia, a toda a hora... Xica nabica!

domingo, fevereiro 08, 2004

O crime (vou ali e ja venho)

O Coroneu, como nao tem uma tranca no cabelo ou brincos no nariz, assim que entrou no bar e entendeu o ambiente arregacou as calcas e ja nao parecia por fora.

Muito fumo, marijuana, normal... fuma quem quer, quem nao quer so fuma se for imbecil.
O Coroneu so nao gostou de um tipo a falar de Deus na mesa onde estava "Deus esta dentro de todos nos ya? De mim e de ti ya? Por isso e errado matar, nem que seja uma flor ya?". E depois pimba! Coca para dentro pelas narinas. Entao o gajo nao mata uma abecula e despeja aquela merda pelo nariz de Deus adentro? Ou e criminoso ou e um mentiroso do caracas. Ou provavelmente os dois...

O lugar do crime

O Coroneu decidiu descontrair em Lima e escolheu a coincidencia - e os companheiros da mesma pousada - fixar a noite num bar chamado Etnias. Ao entrar no bar o Coroneu percebeu... Era como um circo descontraido dentro de uma casa; Bob Marley pintado e na musica alto e continuo a fazer vezes de apresentador
(o Coroneu gosta de Bob Marley),
ao longo de uma parede varios veludos negros estendidos a exporem colares, brincos e sementes de artesanato, numa parte sem mesas um malabarista de fogo a dancar, outro malabarista a dancar sem fogo, e muita marijuana a dancar entre os malabaristas e os demais... Todos hippies
(o Coroneu nao tem nada contra hippies),
que saudaram o Coroneu com passobens elaborados e murros hermanos na mao e "Ya?", "Ya" que significa ola.

quinta-feira, fevereiro 05, 2004

A lua ao contrario e o ceu desconhecido


Um taxista septuagenario, interrogado pelo Coroneu sobre as linhas de Nazca disse definitivo: "sao extraterrestes".

E continuou "poucos sabem mas as vezes a noite ve-se uma luz que baixa na pampa, fica um pouco e logo desaparece entre as estrelas".

O Coroneu e ignorante de extraterrestes mas ate gosta de estrelas. E nestas noites, depois de uma Cuzquena, fecha o livro, apaga a vela e fica deitado a olhar p cima a identificar este ceu tao diferente, com a lua do avesso e constelacoes estranhas.

Quem sabe nao baixa uma luz ao calor do deserto e fica um pouco a olhar ca para baixo antes de desaparecer entre as estrelas, deixando o Coroneu e o taxista e Nazca inteira ca em baixo cada vez mais pequeninos, mais pequenos... ate desaparecerem por completo condensados num ponto...

quarta-feira, fevereiro 04, 2004

De noite, um corpo qualquer

O Coroneu tem um osso de jacare do Brasil, uma cruz andina da Bolivia, outra mariquice estranha do Peru e uma placa que mandou gravar na fabrica - exacto - igual as dos americanos que vao para a guerra, com o nome, grupo sanguineo, numero de passaporte e pais e se o corpo do Coroneu for - por exemplo - queimado por uma das 700 mil minas que separam a Bolivia do Chile, pode-se sempre identificar o esqueleto que tiver o nome do Coroneu pendurado ao pescoco. Sim, porque o Coroneu nao esta para essas formalidades de ser mais um mito de corpo perdido... Nao esta e nao esta.

terça-feira, fevereiro 03, 2004

Adeus Bolivia


O Coroneu disse adeus a Bolivia num estilo discreto: La Paz com um autocarro normal. Para tras ficou:

Santa Cruz, cidade empresarial por excelencia onde o Coroneu so ficou ate encontrar transporte p sair dali.
(Santa Cruz - Cochabamba: viagem normal com mais passageiros que acentos, so um furo e uma hora de atraso)

Cochabamba, a 4 cidade com estatua de Cristo gigante onde ate entao o Coroneu tinha estado. Nada mais de especial a assinalar alem de tantas peluquerias como cafes em Portugal.
(Cochabamba-Sucre: viagem de autocarro normal, com a cabeca de um passageiro q dormia no corredor apoiada na perna do Coroneu. Sem furos.)

Sucre, cidade capital so de nome e na constituicao. Chamada cidade branca - como Corumba, no Brasil - porque os aymaras e quechuas acreditam que os fortes raios de sol que confluem sao atractivos p os maus espiritos que podem ser afastados com a cor branca nas paredes - talvez os maus espiritos n sejam alheios aos espanhois q instalaram as suas familias aqui onde com a prata das minhas q os indigenas escavavam.
(Sucre-Potosi: viagem normal, 1 furo sem pneu sobresselente).

Potosi, cidade outrora tao rica que pavimentavam as ruas com a prata das minas. O Coroneu visitou as minas e sentiu as ondas de 12 explosoes 20 m dentro da montanha. Os mineiros adoram o Tio, estatua do Diabo numa das galerias, porque e quem domina debaixo da terra. Um mineiro em media ganha 30 Bol por dia (EUR3.5).
(Potosi-Uyuni: 230 km feitos em 14h, mais 7 que as previstas; 1 furo, 1 operacao stop pelos Narcoticos que apreenderam cocaina escondida no meio de 'pipocas', 1 furo sem pneu sobresselente, e viagem com um cachorro ao colo e uma galinha aos pes).

Uyuni, e uma perola das maravilhas naturais. Onde esta o maior salar do planeta, uma ancestral saida para o mar fechada pelo movimento das placas, formou um lago que acabou por evaporar. 12mil km2 onde o ceu se funde com terra, tudo reflectido... Por 20USD podemos dormir num hotel feito de blocos de sal que o Coroneu visitou- que deve ser frio como o carago! Ou por 6 Bol comprar 1Ton de sal de cozinha ensacado...
(Uyuni-La Paz: 18 horas sem penus nem galinhas nem ... Ah, os Narcoticos outra vez... mas desta vez nao acharam nada).

La Paz, cidade grande com um centro pequeno. A capital de facto onde o Coroneu assistiu a varias confrontacoes em frente ao Parlamento e ao Governo por causa do problema do gas natural e das terras dos indigenas. O Coroneu gostou muito da capital mas nao queria ca estar a partir de Marco... so uma previsao...
(La Paz-Copacabana: Tudo normal e video do Jackie Chan! IUPIIIII)

Lago Titicaca, o maior navegavel do mundo, tao grande que ha partes que e so horizonte, tao grande que ha ilhas flutuantes construidas com uma especie de juncos que tambem se comem onde vivem familias, tem escolas, ate presidente de ilha, tudo, tudo...

E assim e a Bolivia... Gente orgulhosa que vira a cara contra as fotos, mas q n hesita em estender a mao para a esmola, a passagem do gringo. Ha tempos o Coroneu ouviu na televisao o chileno Luis Sepulveda dizer que a melhor maneira de viajar nao e confirmar, e descobrir... E verdade. Descobrir coisas novas faz sempre esquecer as coisas velhas. E isso e bom.