quinta-feira, setembro 23, 2004

Viajar no Tempo

Quando o Coroneu aprendeu o que era a velocidade da luz teve também a nocao da ideia de viajar no tempo.

Por exemplo, o sol está tao longe tao longe que a luz demora 8,5 minutos a chegar, o que significa que quando se olha para cima vê-se o sol de 8 minutos e meio atrás. Significa que os escaldoes da praia sao causados por luz do passado, que deixou o sol há 8 minutos e meio atrás. Se houvesse um cortinado enorme que cobrisse o sol, só davamos pela ausência da luz 8 minutos e meio depois.

A luz da lua demora menos, demora pouco mais que um segundo. O luar que se admira saiu da lua há 1 segundo atrás. Se com um interruptor desligassemos a luz da lua, contávamos um segundo até ela desaparecer do céu.

O que sugere as viagens no tempo. A primeira viagem à lua demorou 4 dias. Se houvesse a possibilidade de andar à velocidade da luz, chegariamos à lua em pouco mais que 1 segundo. À velocidade da luz chegariamos ao sol em 8 minutos e meio.

Mas se nao houvesse a suposta impossibilidade de viajar mais rápido que a luz e se tivessemos um transporte com o dobro dessa velocidade significa que podiamos chegar ao sol em pouco mais que 4 minutos. Ou seja, como a luz demora 8 minutos e meio, quando chegassemos, ao olhar para trás, podiamos ver a nossa imagem a meio caminho entre o sol e a terra. E 4 minutos depois nós próprios a chegar.

O que sugere que o tempo está ligado ao espaco e que quanto mais espaco se percorre e quanto mais depressa se percorre esse espaco, maior é a viagem ao passado. Mas a partir do momento que se contraria a impossibilidade de viajar à velocidade da luz, saimos fora de âmbito para a ciência actual. Já o viajar para o futuro previsional está fora de âmbito para o Coroneu.

"O futuro a Deus pertence", diz o ditado. É um espaco-tempo por nascer, cultivado ao segundo com o empenho descontraido ou entusiasmado do Grande Arquitecto que vive em cada um dos seres vivos desta galáxia. E das outras.

sexta-feira, setembro 17, 2004

À Segunda é de Vez

O Coroneu está novamente na fase de enviar CV's. Para saber o nome da directora de recursos humanos onde há anos tinha ido a uma entrevista, telefonou para a empresa. A resposta da telefonista foi categórica.

- Nao damos esse tipo de informacao.

Como poucas coisas na vida proporcionam segundas oportunidades há que aproveitar as que existem. O Coroneu esperou um dia, anasalou a voz com sotaque estrangeiro e marcou o mesmo número

- Bom dia, falo da Global American e ter em holding o nosso accionista Jones requerido pela vossa directora de recursos humanos, doctor... doctor...

- A Dra. Catarina Moreira, tenha a gentileza que eu vou passar.

Vá lá, ainda bem que nao dao a informacao a qualquer um.

quarta-feira, setembro 15, 2004

Alguns Escritores

Proust soube que estava a morrer e decidiu abandonar a vida de foliao, reclusou-se em casa e escreveu um livro em tres volumes chamado "À Procura do Tempo Perdido".

Hemingway escreveu uma obra completa em paralelo com uma vida de viagens, reportagens, caças e de folia e deixando de escrever, reclusou-se em casa para morrer com um tiro de espingarda de caça.

JD Salinger está vivo numa casa isolada no meio de um sobrado dos EUA onde à entrada se lê "proibida a entrada" e a quem ignora o letreiro faz questao de o recordar a tiros de espingarda de caça. Nos poucos livros que escreveu fez uma exigencia - que a capa apenas contivesse o seu nome e o titulo, sem desenhos nem design.

Saint Exupery foi considerado um inutil pela professora da primária e anos depois escreveu um livro chamado "O Ultimo Voo". Anos depois fez o seu próprio ultimo voo e desapareceu dos radares no aviao que pilotava, sem vestigios de destroços ou despenhamentos.

Deve custar uma vida escrever livros bons. Mas nao é preferivel sacrificar um livro para ter uma vida boa?

terça-feira, setembro 14, 2004

Duas Frases de Shakespeare

"Se fores honesto contigo próprio, a vida seguir-se-á naturalmente, tal como a noite sucede ao dia"

O que há de bom em Shakespeare é que as palavras das personagens sao de uma verdade muito transparente. (Tao transparente que as próprias personagens sao por vezes fantasmas).

A dificuldade da frase citada reside em saber o que é ser honesto com a própria pessoa. Decidir que realmente se deseja algo ou que afinal se trata de um capricho? Nao sabotar opcoes? Nao ponderar oportunidades com dados viciados? Nao perder o foco de vista? Ser honesto com os outros? O Coroneu nao sabe. Às vezes ser honesto parece traduzir-se em pedir um sumo de laranja e um croissant ao pequeno almoco.


Outras vezes significa tomar decisoes irreversiveis que parecem a maior das injusticas. Há temporadas em que a tempestade é tao grande que perde-se o foco e a direccao das estrelas e tenta-se a todo o custo nao navegar num capricho, nao sabotar opcoes, nao jogar com dados viciados e mesmo assim tem-se a sensacao que se falhou e naufragou-se ao largo da costa perdendo a oportunidade de uma vida. Ainda bem que há abrigos onde recuperar a verdade.

"Em horas de tempestade qualquer porto é um abrigo"

quinta-feira, setembro 09, 2004

Viver no Hotel

Chega ao hotel. Enquanto passa no hall toda a gente o cumprimenta. Nao sao amigos, trabalham no hotel e há uma empatia natural. Sobe pelo elevador. Guardam-lhe sempre o quarto no ultimo piso e com vista para a ribeira, como gosta.

Entra no quarto. Como sempre, a cama está feita, um chocolate na dobra dos lencois lavados, o quarto ordenado, as toalhas limpas e dobradas na casa de banho. Tapa o ralo da banheira, abre a torneira e derrama um ou dois frasquinhos de champô do hotel que faz uma espuma imensa. Pondera com a mao a temperatura da água.

Enquanto a banheira enche, descalca-se e deita-se na cama. Pega no comando e corre as noticias da televisao. Hesita numa ou outra, por vezes nalgum programa cómico ou desenho animado. Pega no telefone e inicia os telefonemas do dia, à familia e aos amigos. Os telefonemas descontraiem, relaxam e fica com boa disposicao. O telemovel toca. É um agradável convite para jantar, é bom ter amigos. Diz "uma hora". Entretanto vai-se despindo. Apaga a televisao e abre no portatil o programa de musica. Aumenta ligeiramente o som, para se ouvir da casa de banho.

Antes de entrar na banheira acende duas ou três velas e apaga a luz. A água está tépida, uma temperatura boa. A musica está distante, vem do outro lado da porta. Adormece... Volta a acordar e volta a adormecer... Várias vezes... De repente o telefone toca e do outro lado alguém reclama. É sempre o mesmo o Coroneu! E depois como explicar aos amigos que se chegou atrasado por adormecer na banheira de um hotel?

O que eles nao sabem é que o paraiso se pode construir em qualquer momento, em qualquer lugar. É só querer. Seja em casa, seja com amigos num bar, ou num hotel onde os empregados nos cumprimentam com simpatia antes de subirmos e montarmos a nossa felicidade num reconfortante banho de uma hora em que as bolhas de espuma tépida nos refletem as chamas tranquilas de duas velas acesas.

quarta-feira, setembro 08, 2004

Coisas do Norte

Estava o Coroneu na casa de banho da fábrica quando batem à porta como que a querer derrubá-la.
"Eh lá!", gritou o Coroneu.
Do outro lado a inconfundivel voz tripeira do senhor da manutencao:
"Óh engenheiro, tao-lhe a chamar caralho!"

A frase é dúbia, mas realmente requisitavam-no junto à linha...
O norte é lindo!

segunda-feira, setembro 06, 2004

Fashion Readings

O Coroneu nunca foi um leitor por modas. Muito pelo contrário, na escola implicava com os livros obrigatórios. Na altura d'Os Maias, por exemplo, era a tia do Coroneu quem contava o resumo no dia anterior à apresentacao na sala de aula. Viagens na Minha Terra veio a revelar-se de um tédio incontornável - defeito do Coroneu que foi apanhado a dormir babando-se directamente para a obra aberta algures por Santarém. Mas isto é o Coroneu que nunca gostou de fazer obrigado o que deveria ser de prazer expontâneo.

E a fashion reading deste Verao é O Codigo Da Vinci. O Coroneu ainda nao leu mas toda a gente esta curiosa ou ja leu ou vai ler. O livro moda do Verao passado supoe o Coroneu que foi o Equador. Há tres anos o Sei Lá. Antes talvez o Harry Potter. Há uns tempos atrás O Mundo de Sofia. Depois há as semanais, como o Expresso (que tal como a democracia, é tendencioso para a maioria, cataliza opinioes e nao é bom - mas é sem duvida o melhor que há).

Nao é mau, isto das fashion readings. Poe mais pessoas a ler. E pelo menos as obras escolhidas sao de uma qualidade superior aos grandes blockbusters cinematograficos de Verao.

Se a tia do Coroneu estivesse por cá, curiosa como era, perguntaria que historia é essa que toda a gente fala na TV sobre um código secreto, a última ceia e que se passa ao redor do mundo. E seria agora o Coroneu a comprar o fashion book do Verao para contar o resumo do capitulo lido no dia anterior.