quarta-feira, junho 30, 2004

Parentesis Politico Actual

Durão Barroso abandonou o cargo de Primeiro Ministro de Portugal a meio do mandato para aceitar o cargo de Presidente da Comissão Europeia. Os europeus estão agora expectantes por ver se cumpre o mandato ou se é entretanto sugerido para a NATO...

terça-feira, junho 29, 2004

Coroneu Lavou a Cara

O Coroneu lembrou-se das vezes em que saia da tenda e tomava banho num lago frio da Patagónia (os europeus aprenderam o hábito do banho com os indigenas da América do Sul) e por isso lavou a cara ao blogue.

Cara lavada, modificações, simplificações, acrescentos e perfil completo do Coroneu onde há também um mail para solicitação de entrevistas ou conferências.

Uma Pista Cultural


'Tres Bañistas' de Paul Cezanne influenciou Picasso de tal forma que o levou a pintar as suas próprias Banistas, no período neoclássico que antecedeu o cubismo.

segunda-feira, junho 28, 2004

A Senhora muito Velha que Fuma

O Coroneu viu-se de novo limitado a 3 paredes e uma porta para a varanda - o que já não é mau - no antigo 3º andar de Lisboa.

Na actualidade as varandas e janelas pavoneiam-se com bandeiras portuguesas em riste estendidas ao sol desfolhadas num unânime patriotismo do EURO 2004 que apenas transtorna o esvoaçar dos pombos e outros desconfiados menos entusiastas. Mesmo que seja por moda - ou não - o Coroneu gosta. O edificio não é estranho ao Coroneu. Já ali vivera há tempos durante um ano ou dois. É remodelado e tem muitas aberturas para a luz. Mas agora é de noite e o Coroneu vê-se de novo limitado no quarto que já fora seu. Ainda persistem alguns mapas na parede, um de cada região por onde o Coroneu viajou e um ou dois de cidades mais especiais. O Coroneu tem uma adoração carinhosa e quase infantil por mapas. Antes de dormir o Coroneu foi à varanda. Calcula que teria acendido um cigarro se fumasse.

Na janela em frente, do outro lado da rua ela aparece de camisa de dormir a esvoaçar do parapeito os pombos despertos. É uma senhora muito velha que fuma, só vai à janela para fumar, só sai da cama para fumar. A senhora só tem janela e da varanda do Coroneu vê-se um ângulo da cama. Durante todo o dia entende-se a obscuridade do quarto interrompida pelo candeeiro sempre acesso que ilumina a leitura continua de um braço a mover-se ao virar a página dos livros de que nunca se percebe a capa.

Talvez a senhora muito velha que fuma tenha sido ela própria uma entusiasta trotamundos. Talvez se tenha cansado ou um problema de saúde apesar de fumar ou então simplesmente depois de uma viagem se tenha esquecido de continuar. Ou pode ser que se tenha lembrado mas se tenha fartado de viajar sozinha e não tenha encontrado nenhum companheiro de viagem. Ou ainda encontrou mas permaneceu numa espera que não acaba nunca.

Há algumas pessoas a quem o Coroneu mostra a senhora e que depois de dizer o que pensa encerram o assunto com um conclusivo É pouco provavel. Ou que resolvem a senhora muito velha que fuma como um cansaço de vida à espera da morte. Mas o Coroneu sabe que não é assim. A janela dela também tem uma bandeira.

E o Coroneu sabe, tem a certeza e até apostava se houvesse forma de verificar que a senhora muito velha que fuma tem as paredes do quarto forradas a mapas de cidades, paises, continentes, prateleiras de chichas do Egipto, de mates da Argentina ou chapéus de palha da República Dominicana e que os livros que lê são roteiros, guias turisticos especializados no idioma local. E que só está à espera do companheiro enquanto estuda na cama o guia da próxima viagem. O Coroneu deseja-lhe felicidades para a próxima viagem. E espera que não demore muito. Porque deve ser dificil passar anos num quarto com a obscuridade interrompida apenas pelo candeeiro da cabeceira.

quarta-feira, junho 16, 2004

Vara de Indio

"Así, al empezar el exterminio de indios, los [indios] onas no tenían dioses protectores, y los europeos y los criollos los vieron construir pésimas embarcaciones con pieles y cortezas, intentaron rescatar a sus dioses del fondo de la mar, o tal vez quisieron vivir con ellos en su nueva morada.", Mundo del Fin del Mundo, Luis Sepúlveda.

O Coroneu descia a colina dos mapuches apoiado numa vara esculpida pelo próprio mapuche, filho de cacique, que montava o cavalo frente ao Coroneu. O cavalo descia lentamente e em silêncio e o Coroneu seguia atrás com a tenda compactada presa à mochila e a mochila presa às costas, apoiado na vara esculpida.

O Coroneu gostou da vara esculpida assim que a viu e ficou contente quando o mapuche lha ofereceu.

Quando chegaram ao lago, o índio desmontou do cavalo e ajudou o Coroneu a estabilizar a mochila dentro do bote. Depois o Coroneu passou-lhe a vara. O filho do cacique, em vez de acomodar a vara no fundo do bote lançou-a para o meio do lago.

Enquanto atravessava o Coroneu para a outra margem disse que nenhuma vara era indispensável. Disse que uma vara não são pessoas nem animais, é só uma vara e não era bom desperdiçar o resto das varas que a natureza nos disponibiliza pelos caminhos. O Coroneu disse “pois pois, claro” e pensou “lá está este a fazer papel de indio que fala ao gringo”.

O Coroneu despediu-se e fez a hora de caminho até chegar à estrada. Só quando começou a sentir o peso da mochila e procurou uma vara nova começou a meditar melhor. “Até que faz sentido”, pensou o Coroneu, “Ou não...”.

Pesca de Curiosidades

Em várias cidades da Bolívia e do Peru há um tipo de comerciante de rua que empurra um carrinho com duas rodas e anuncia a mercadoria por detrás de um megafone. No Peru a mercadoria anunciada é uvas. Na Bolívia rolos de papel higiénico.

Em Potosi, a cidade boliviana mais cicatrizada pela exploração de minas, proliferam escritórios de advogados. Os advogados, quando se formam, fazem um juramento com os dedos retorcidos – uma mistura de vulcano com o ok do mergulhador.

Quer na Bolívia quer no Peru, para entrar num autocarro a partir da estação é pago um imposto “direcho a anden”, além do bilhete do autocarro em si. Sem pagar este imposto não nos deixam passar da estação para o recinto dos autocarros.

No Chile põem morango nas espetadas e sal antes de morder a maçã.

O Peru e o Chile reclamam como bebida nacional o Pisco, um licor alcoólico forte. O Coroneu não devia tomar partido mas toma o do Peru – afinal Pisco é mesmo uma cidade peruana.

O índice de popularidade actual do presidente do Peru é inferior a 10%. O presidente não se demite porque pretende chegar ao fim do mandato para assegurar a reforma, facto naturalmente assumido por todos os peruanos – e incomodativo para os peruanos esclarecidos.

terça-feira, junho 08, 2004

Os Banhistas (de Picasso)

'Contos de Verão' da editora Coolbooks é um livro com 30 histórias produto de um concurso para o qual o Coroneu gerou o conto cujas algumas passagens estão descritas abaixo. Vende-se na tenda dos pequenos editores da feira do livro de Lisboa. E a partir de hoje nas livrarias. O Coroneu e um amigo do Coroneu foram 2 dos 30 seleccionados. O amigo foi aquele com quem o Coroneu atravessou a costa leste dos EUA - mas isso é outra história.

(É o que provoca estar desocupado. Se continuar desocupado o Coroneu ainda escreve é um livro inteiro)

O narrador
"-Afoga-se!Afoga-se! - gritou o pequeno apontando na direcção de uma turbulência mesclada de braços, pernas e espuma a debaterem-se a cem metros da costa(...)"

O nadador salvador
"(...) o que não me faltam é amigas para levar ao meu apartamento, quer dizer, para o meu irmão levar ao apartamento dele."

O vendedor de gelados
"Olhe que eu ando há muito tempo na praia e nunca tinha visto tanta gente tão desorientada. (...) fiquei a olhar aquilo como o único sóbrio num bar de bêbados."

Uma mulher ca(n)sada
"O que vale é que as férias já quase terminaram e vou ter (...) três consultas por mês com o pediatra, que ao contrário do meu marido, dá atenção ao miúdo, fala-me com o charme de cinema antigo e explica-me maravilhas como a do iodo e do sol."

Uma mulher solteira (uma banhista de Picasso)
"Está bem que os homens são todos iguais mas há mulheres que não merecem os homens que têm.",

Um homem qualquer
"Conheci o húngaro na América do Sul (...) um suicida ameaçava rebentar a estrutura e abria o casaco a desvendar tripas de fios coloridos e bobines de cobre (...). O húngaro (...) bom apreciador que era do malbec chileno ou do cabernet sauvignon argentino (...) da boa marijuana ou scan ou pinillo do Paraguai ou Colômbia (...)."

terça-feira, junho 01, 2004

Um Momento num Concerto

O Coroneu foi ao concerto de Ben Harper and The Innocent Criminals no Rock in Rio, em Lisboa. O Coroneu gostava de Ben Harper mas, como um fã não praticante, não conhecia em profundo. Ficou a conhecer e a gostar ainda mais.

O melhor, o melhor mesmo para o Coroneu foi quando depois do concerto o Ben Harper regressou. Sentou-se com a guitarra ao colo, um ténue foco de luz sobre ele como nos quadros valiosos dos museus, e a primeira vibração de corda encheu o palco vazio, precipitou-se para a multidão e aquelas duas músicas tranquilas, quase silenciosas, voaram sobre os espectadores como anjos a fazer amor sem se tocarem. A vibração de Ben Harper sim, bastava abrir a mão sobre a cabeça para nos tocar. Ambiente mágico. Uma das músicas, se o Coroneu não se engana, era o Walk Away. No fim Ben Harper disse:

- I'm sorry for not knowing enough to thank you in portuguese. Estão aqui 30,40,50,6o mil pessoas e estava tanto silêncio como se estivessemos in my living room. I thank you for that.

O Coroneu tem a certeza que quase toda a gente, desde os que estendiam os isqueiros acesos, aos que escutavam a noite de olhos fechados pensaram

- Obrigado eu Ben. Obrigado eu.

Resumo (Muito) Minimalista da America do Sul

Os chilenos não gostam dos argentinos que gostam dos brasileiros que não gostam dos argentinos que não se importam muito com os bolivianos que desconfiam dos peruanos e dos chilenos e dos argentinos e dos brasileiros e dos paraguaios porque nunca ganharam guerras com ninguém e já as tiveram contra todos.

O Coroneu acha que quando arrumarem a casa,

(como o Chile está a fazer, como a Argentina vai fazer, como se espera que o Brasil faça)

os países da América do Sul, países de sucesso permanentemente adiado, podem começar a usar a sua própria loiça nova em vez de a guardarem apenas para as visitas dos países que veneram e a quem abrem a porta de casa nos jantares de cerimónia com o pedido

- Faça como se estivesse na sua casa.

O grave é que eles fazem. Sem cerimónia.

(O Coroneu pede desculpa aos Sul Americanos por falar como se vivesse, como eles, o dia a dia nesses paises)