sexta-feira, abril 21, 2006

Bom Dia e Boa Sorte

Andava o Coroneu a preencher tempo morto confirmando finalmente os números de telefone de emergência, quando chegou a vez dos bombeiros:
- Bom dia, Bombeiros Voluntários de Alcântara.
- Queria confirmar o número de serviço para a área desta obra por favor, pediu o Coroneu.
- Qual é a morada?
- ...
- Zona norte ou zona sul?
- Bem, a obra é mesmo dentro do hipermercado...
- Pois, mas o hipermercado é grande, se for zona norte é uma corporação se for zona sul é outra.
- Bom, e vocês qual das zonas cobrem?
- Ah nós nem a norte nem a sul, só lhe estava a perguntar para
- Obrigado, agradeceu o Coroneu e desligou.

Para descansar de bombeiros o Coroneu passou então para a protecção civil:
- Bom dia, queria confirmar o número de serviço de protecção civil por favor, pediu o Coroneu.
- Qual é a morada?
- ...
- Só um momento que eu vou passar.
Tuuuu, tuuuu, tuuu e finalmente atendem:
- Bom dia, Bombeiros Voluntários de Alcântara em que posso ajudar?

segunda-feira, abril 17, 2006

Prova Lá Do Teu Ladrar (e deixa dormir na rede)

É fácil, primeiro grava-se no telemóvel o ladrar do jovem cão. Depois quando o cão estiver desprevenido, género a divertir-se fazendo trapos da mão do Coroneu, retira-se do bolso o telemóvel com aquela mão que não está a ser destruída pelos incisivos e carrega-se na tecla a reproduzir o som do ladrar. E ai é ver as orelhas a espetarem, o cão suspenso no seu próprio ladrar a tentar entender, olhar a medo o ecrãn de onde sai o som.

Não é por mal mas depois disso cada vez que os quilos de dentes se aproximam com vontade de brincar é só clicar na tecla e virar o telemóvel e é ver o cão pesado e poderoso a fugir do pequeno aparelho que contém o segredo para finalmente dormir balançado na rede, livre das brincadeiras permanentes de um cão sempre com demasiada energia para a paciência sonolenta de um Coroneu embalado.

segunda-feira, abril 03, 2006

Praça Perdida na Cidade

O Coroneu arrisca afirmar que Lisboa deve ser a única cidade do mundo com um jardim de largo nomeado assim, circuitado pelos carros dos cabarés e cujos bancos de pedra são a casa de velhinhos solitários com bengalas que espalham o milho dos pombos, ou curvados por ali outros velhinhos sem bengala distribuem carapaus fritos pelas embalagens de manteiga vazias rodeados por roçares de pêlos pelas pernas e mil miares sôfregos, ou outros velhinhos que recordam alto vidas que já ninguém liga, eles próprios desapercebidos que ninguém lhes liga a suspirarem alto frases como "que é feito da minha odalisca de rubi". E nesse largo a árvore maior é um salgueiro chorão, tão harmoniosa e no entanto a espécie de árvore mais triste do mundo.

E assim o Coroneu arrisca afirmar que Lisboa deve ser a única cidade do mundo com um largo semeado de velhos orfãos de si mesmos, pombos poluídos e gatos anoréticos, rodeada de cabarés nocturnos, tudo sob a árvore mais triste do mundo nessa praça cujo nome escrito na placa ao alto os carros que entram e saiem (a caminho do Bairro Alto) ignoram: 'Praça da Alegria'.