quinta-feira, março 24, 2005

O Brasil é Meu

Acontece sempre. Basta a permissividade do céu cinzento a uma nesga de sol e o Coroneu começa a soprar bolhas de saudade com a palavra Brasil lá dentro. Não só o Brasil dos turistas mas também. Quando algum amigo fala maravilhado das férias, o Coroneu não consegue evitar e pensa
O Brasil é meu não é teu
ou então
Esse não é o Brasil eu é que sei o que é o Brasil.

E o Brasil para o Coroneu é andar de fusca a álcool e saborear suco de cana da mesma cana que alimenta o fusca e faz a cachaça das caipirinhas. É saber que nem todos os estados deliram com o carnaval. É saber a diferença entre suco e vitamina. Lanchar um milk shake. Comprar fichas para os telefones públicos. Ouvir quero-queros e admirar jabirús. Negociar preços no camelô dizendo Ó cara eu não sou gringo. Usar fichas na corrente de 3 pólos. Dizer frigobar e criado mudo e caiu a ficha e papetes e toda a vida recto e perguntar Oi? Conhecer a história dos bandeirantes. Respirar Pantanal e tropeçar numa cobra cara-de-sapo. Resolver abacaxi. Ver prendas dançar. Fazer chupeta ao carro. Ler o H como R. Pegar mototáxi. Democratizar MPB, Bossa Nova, Axé, Forró e Afoxé. Descomplexar espiritismo, candomblé e orixás, mães de santo e pajés.

Acontece sempre. Com o sol o Coroneu viaja na maionese. E pensa Eu é que sei o que é o Brasil. Mas não sabe. Só os brasileiros sabem do que ainda há tanto para saber. Ao Coroneu até regressar resta-lhe soprar bolhas de saudade com a palavra Brasil lá dentro.

quarta-feira, março 16, 2005

Na Montanha é Diferente

"Kilimanjaro is a snow covered mountain (...). Close to the western summit there is the dried and frozen carcass of a leopard. No one has explained what the leopard was seeking at that altitude.", The Snows of Kilimanjaro, Ernest Hemingway

Coberta de neve, a montanha exige dedicação em troca de sobrevivência. Não há batota na montanha. Como não há batota no fundo do mar. Como não há batota no deserto árido. O modesto conhecimento do Coroneu junta estes ambientes onde a batota fica de fora. Onde o branco da montanha é branco mas sempre diferente. O azul do mar é só azul mas nunca cansa. A areia do deserto só areia mas sempre mutável.

Estava nublado na montanha e enquanto descia uma pista entusiasmado pelo branco omnipresente, o Coroneu sucumbiu à tentação e esforçou mais do que sabia. E a montanha respondeu. Numa queda torceu um tornozelo, partiu a prancha para não torcer o outro e foi directo ao posto médico de onde saiu de muletas. Nada que não cure em poucos dias, mas o Coroneu reaprendeu. A montanha é uma amante exigente que não tolera desonestidades. Mas está sempre pronta a perdoar e a reaceitar todos os anos pelo Inverno. E nunca é igual. E o branco não é só branco. E para o ano o Coroneu vai tentar não fazer batota. Porque na montanha é diferente. E se é feio enganar pessoas, enganar montanhas nem é possivel. Não se enganam montanhas, Coroneu. Não se enganam montanhas.