domingo, junho 17, 2007

Agora Como Redenção Era Ser Despedido

"Were you to cross the world, my dear,
To work or love or fight,
I could be calm and wistful here,
And close my eyes at night"
................................'Distance', Dorothy Parker

Várias vezes durante os estudos do Coroneu alguns professores ameaçaram-no com a premonição negra de um futuro suado nas obras se continuasse a jogar xadrez e olhar descontraído para o céu em vez de se dedicar aos gráficos de tangentes e à composição orgânica dos materiais ferrosos.

Hoje em dia o Coroneu trabalha efectivamente nas obras; por exemplo, olha pela janela e acolá um desalentado trolha de colher na mão alisa a talocha de encontro ao reboco. Mais acolá outro trolha de tronco enrugado pelo sol debruça-se alinhando as espias entre as estacas dum escantilhão malhado que alguém irá corrigir. Nesta pausa na gestão do projecto o Coroneu levanta-se e fecha a janela do contentor (o barulho da garlopa a plainar na carpintaria desconcentra - além que o ar condicionado é assim mais eficaz). Afinal tinham razão, os professores. O futuro do Coroneu passaria pelas obras.

"Although I work, and seldom cease,
At Dumas pere and Dumas fils,
Alas, I cannot make me care
For Dumas fils and Dumas pere."
................................'Alexandre Dumas And His Son', Dorothy Parker

quinta-feira, junho 14, 2007

Não Falar de Cavalos Enquanto Correm

O Coroneu gosta de pensar que pertence ao cluster de pessoas que tem o dom de saber escutar; tal como ver não é só olhar, escutar é mais que ouvir. (A esta sinceridade blinda-a o Coroneu dessa imodéstia comum aos que usam a palavra cluster em vez de agrupamento – mas antes cluster que clister).

Isto para contar que ao sair do carro para um jogging rápido pelo parque apareceu um indivíduo desesperado a solicitar $ porque o carro empanou e tal e tal… O individuo ficou com o nº telemóvel do Coroneu que lhe deu a nota mais baixa do mercado, consciente que o carro empanado e tal e tal era um pretexto. No entanto uns dias depois, (alvissaras! alvissaras!) o indivíduo enviou realmente um vale do correio no valor da nota mais baixa do mercado.

Mas vale mesmo a pena saber escutar quando há pessoas que sabem contar (que é mais que falar) e é dessas pessoas que a solidão do Coroneu tem saudades - talvez não as tenha apreciado quanto devia enquanto as escutava. A saudade é uma pessoa invisível que nos bate à porta só para vermos que já não há ninguém. A solidão é uma pessoa invisível que nos telefona só para verificarmos que ninguém responde. A loucura começa quando acreditamos que a saudade ou a solidão são pessoas invisíveis. Um sinal de sanidade é pensarmos que a saudade e a solidão não dependem de outras pessoas. Outro sinal de sanidade é não usarmos jogging quando podemos dizer corrida.

"listen," I said, not looking
around, "it's the kiss of death to
talk about horses at the
track..."

"what kind of rule is that?"
he asked. "God doesn't make
rules...

"I turned around and looked at him:
"maybe not, but I
do."

'I like your books', Charles Bukowski

sábado, junho 09, 2007

Art Deco-Dândi-Neo-Ou-Algo-Assim

Como no post anterior, a espinha dorsal da memória dobra-se até ao limite em que a memória serve a pessoa - e estará pouco saudável se a pessoa servir a memória. Mas este post era sobre outra coisa, qualquer outra coisa que o Coroneu entretanto esqueceu...

"Memory, hither come,
And tune your merry notes;
And, while upon the wind
Your music floats."

'Song: Memory, hither come', William Blake