segunda-feira, janeiro 31, 2005

Ai Esses Miúdos

No final do dia todos entraram no hotel a discutir casualidades do projecto de camisa e barbeados, os franceses uniformes de calça cinzenta, camisa branca e gravata azul - cores da empresa. O Coroneu como sempre.

O elevador chegou, todos os cinco entraram.

O espaço dentro do elevador era curto e o francês chefe de todos disse 'Ninguém se mova' e acto continuo deu um pulo e depois outro e depois outro e no final todos estavam aos pulos e no final do quinto ou sexto pulo o elevador soluçou e encravando parou. Do painel uma voz ressoou 'Está tudo bem? Entre que andares parou?'. O Coroneu respondeu. Dentro do elevador a temperatura subia.

Quando a equipa de desencravamento conseguiu finalmente baixar o elevador a um andar e abrir a porta deparou-se com quatro franceses e um português, todos em tronco nú de gravata ao pescoço e ao pé coxinho a jogar tetris de telemovel. Antes de irem para os respectivos quartos compararam os recordes. Ficou prometida uma nova sessão no dia seguinte que não chegou a cumprir-se porque ficaram em reuniões até tarde na fábrica.

quarta-feira, janeiro 12, 2005

Martini: Causa Efeito no Mundo Automóvel

"The new mechanical wagon with the
awful name automobile has come to stay..."
1897, New York Times

Foi assim que apareceu pela primeira vez massificada ao público a palavra automobile, de que deriva automóvel. A palavra foi criada no Séc.XIV por um pintor/engenheiro chamado Martini - desde cedo a profíncua relação condução-bebida. Martini foi buscar a palavra grega 'auto' e a latina 'mobils'. Engenheiros artistas é o que dá...

(Carro provém de vocábulos usados para carruagens de cavalos, do Celta 'carrus')

Estimam-se em cerca de 100 mil as patentes envolvidas no carro como o conhecemos hoje. A optimização nas linhas de produção é atribuida a Frederick W. Taylor que levava trabalho para casa obrigando os filhos a tomarem banho e a lavar os dentes seguindo instruções precisas para reduzir o tempo. Um deles tornou-se - dizem - um bêbado dedicado.

Considera-se que o primeiro automóvel foi construido em 1771 pelo francês Cugnot; uma máquina a vapor que parava de 15 em 15 minutos para abastecer. Um dos dois homens que o financiava morreu na mesma altura em que o outro fugiu com uma amante - desgosto de amor? Numa demosntração ao rei o francês foi protagonista do primeiro acidente automóvel, contra uma parede de pedra. Rumores acusam embriagez de Martini. Dado que a Martini foi fundada quase 100 anos depois, provavelmente tratava-se de uma garrafa de Vermute caseiro.


“I am going to democratize the automobile. When I’m through
everybody will be able to afford one, and about everyone will have one.”
1909, Henry Ford

quinta-feira, janeiro 06, 2005

Insómnia

"(...)But I, being poor, have only my dreams.
I have spread my dreams under your feet;
tread softly, because you tread on my dreams."
'He Wishes for the Cloths of Heaven', William Butler Yeats

Está frio na varanda do 3º andar. É a 3ª vez que o Coroneu habita um 3º andar. Há qualquer coisa com o 3º andar. À noite a rua do Coroneu fica deserta, habitada de carros adormecidos e de janelas às escuras. O Coroneu estende o braço, empertiga o indicador e a rua transforma-se num rio de lama incandescente. Já não está tanto frio. De seguida o Coroneu estende o braço, empertiga o indicador e os carros são águias, as portas abertas asas e o capôt um bico enorme. Olha para cima. Vêem-se estrelas, algumas. O Coroneu empertiga o dedo e caiem lâmpadas laranjas que se fundem ao cair na lava que é a rua. Já não está frio. O Coroneu fica ali na varanda a olhar a lava que escorre em baixo, a olhar carros a subir para o céu e a olhar chuvas de lâmpadas luminosas com insectos lá dentro. Maravilhoso. Por isso o Coroneu tem sempre cuidado ao passar numa rua. Não quer pisar os sonhos de quem não dorme.