quinta-feira, setembro 09, 2004

Viver no Hotel

Chega ao hotel. Enquanto passa no hall toda a gente o cumprimenta. Nao sao amigos, trabalham no hotel e há uma empatia natural. Sobe pelo elevador. Guardam-lhe sempre o quarto no ultimo piso e com vista para a ribeira, como gosta.

Entra no quarto. Como sempre, a cama está feita, um chocolate na dobra dos lencois lavados, o quarto ordenado, as toalhas limpas e dobradas na casa de banho. Tapa o ralo da banheira, abre a torneira e derrama um ou dois frasquinhos de champô do hotel que faz uma espuma imensa. Pondera com a mao a temperatura da água.

Enquanto a banheira enche, descalca-se e deita-se na cama. Pega no comando e corre as noticias da televisao. Hesita numa ou outra, por vezes nalgum programa cómico ou desenho animado. Pega no telefone e inicia os telefonemas do dia, à familia e aos amigos. Os telefonemas descontraiem, relaxam e fica com boa disposicao. O telemovel toca. É um agradável convite para jantar, é bom ter amigos. Diz "uma hora". Entretanto vai-se despindo. Apaga a televisao e abre no portatil o programa de musica. Aumenta ligeiramente o som, para se ouvir da casa de banho.

Antes de entrar na banheira acende duas ou três velas e apaga a luz. A água está tépida, uma temperatura boa. A musica está distante, vem do outro lado da porta. Adormece... Volta a acordar e volta a adormecer... Várias vezes... De repente o telefone toca e do outro lado alguém reclama. É sempre o mesmo o Coroneu! E depois como explicar aos amigos que se chegou atrasado por adormecer na banheira de um hotel?

O que eles nao sabem é que o paraiso se pode construir em qualquer momento, em qualquer lugar. É só querer. Seja em casa, seja com amigos num bar, ou num hotel onde os empregados nos cumprimentam com simpatia antes de subirmos e montarmos a nossa felicidade num reconfortante banho de uma hora em que as bolhas de espuma tépida nos refletem as chamas tranquilas de duas velas acesas.

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