O Coroneu permanecia em pé, com a mochila aos pés, de braço estendido e dedo espigado. De vez em quando passava um carro e levantava pó. Depois de um almoço improvável
(O Coroneu comprou metade de um pão ao dono de um hotel rural fora de época, à revelia de um furioso doberman solto)
ponderava as possibilidades de montar a tenda quando viu uma figura a caminhar no campo. Um homem chegou à estrada e atravessou-a a 100 m do Coroneu. O homem permaneceu em pé do lado de onde vinham os carros. Quando um carro passou o homem estendeu o dedo. Estava também à boleia, e prostrava-se como se tivesse chegado antes do Coroneu.
O Coroneu foi falar com o homem. Ao aproximar-se constatou que teria uns 40 anos. Ao expor com calma o caso
(piensa el señor que es justo...)
a resposta do senhor, depois de fazer de conta que não entendia o castellano de un extrangeiro, foi
- Usted estava primero? Bueno aca non se usa eso...
E como a discussão começou a aquecer e o Coroneu notou a mão do senhor a viajar com frequencia atrás das costas, lembrou-se também que tinha a sua própria faca de cozinha nas costas presa ao cinto como viu a alguns gauchos. Não que o Coroneu a usasse, mas serviria para a mostrar também.
Subito uma carrinha de caixa aberta passou e parou. Levou-os aos dois. Durante a viagem, na caixa aberta onde chibava o vento gelado dos 130km/h, o senhor disse que era chileno
(desde los 11 que estoy en Argentina pero soy chileno mi corazon es chileno)
e não respondeu a nenhuma pergunta sobre a Argentina. Em contrapartida exaltava a pátria chilena em cada curva. Era na verdade um senhor humilde, vivera sempre no campo. O Coroneu conheceu chilenos conscientes emigrados. Este senhor, apesar de humilde e porventura de bom coração, não era um deles.
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