sexta-feira, dezembro 23, 2005
Fogueiras no Meio da Sala
- A comida está na mesa,
ouvia o Coroneu lá de longe. Mas além da galinha, ninguém. Colheu-a da armadilha mas era nada se não conseguisse fogo. Com uma cautelosa torção do pescoço extinguiu-lhe o último piar.
- A comida está na mesa,
ouvia o Coroneu e soprava sobre as húmidas brasas virgens na esperança ansiosa que os desesperados têm, na esperança que o agora último pau de fósforo se transformasse em fogo farto, uma alquimia de sobrevivência mais valiosa que o ouro.
- A comida está na mesa,
mas ali se não houvesse fogo nenhuma comida estava na mesa, o estômago oco não suportaria mais ausências. Pensou 'os créditos chegaram ao fim Coroneu'.
- A comida está na mesa e essa lareira afinal sai ou não?
Pronto! Logo agora que o Coroneu estava a chegar ao limite! E ia outra vez ser herói de uma aventura a que poucos sobreviveriam! Ajoelhado ateou finalmente o papel sob a lenha da lareira e juntou-se à familia na mesa de jantar onde pelo telejornal o mundo lá fora ia acenando para dentro da sala aquecida.
terça-feira, dezembro 20, 2005
Quente a Sul, Frio a Norte
Esta planície também tem litoral, voltado para o Brasil e para a viagem. Tem casas brancas e gente que veste de preto, muito afável e indiferente a modas numa atitude digna e muito sua que perdura. Neste hemisfério as pessoas do Sul são quentes como esse clima cada vez mais próximo do deserto, são constantemente moldadas pelo vento mas não se abatem, como as dunas. A este Sul não alcança a nortada nem o frio que vem do Norte. Claro que no outro hemisfério é diferente, é ao contrário.
sexta-feira, dezembro 09, 2005
Saber de Cão
Um cão seguia adiante ao Coroneu. A condutora do carro saiu e ficou a olhar para a traseira amolgada do carro com o motorista da motorizada. Os dois a opinarem da traseira do carro. Depois os dois s discutirem, já ausentes do carro e da motorizada. O cão aproximou-se da motorizada caida, cheirou-lhe o pneu deitado e alçando a perna fez o que os cães fazem na rua junto aos pneus.
O Coroneu deixou para trás a motorizada e os dois condutores a discutir junto ao carro. À frente o cão seguia seguro que quando há só chapa danificada - e não era muita - o melhor é alçar a perna e seguir para o resto da noite que não acaba ali.
terça-feira, novembro 22, 2005
Mundo Árido no Topo do Céu
O Sahara é o maior deserto do mundo, excluindo a Antártida. Tem 9,065,000 km2, quase o tamanho da Europa. A palavra vem do árabe e do tuaregue que significa 'deserto'. Na América do Sul está no entanto o deserto mais árido do mundo, onde há pontos que nunca sentiram chuva. A lingua do deserto Atacama varre 960km ao longo dos Andes. O Coroneu já esteve no Sahara e em Atacama. Nunca esteve na Antártida, o último território independente de estados políticos no planeta azul. Mas gostava.
segunda-feira, novembro 21, 2005
Ouvido de Passagem
- Ora, está entretida.
- Entretida há 4 dias, não?
No mesmo fim de semana em que o Coroneu foi ver a 'Alice' - uma história simples, num filme bom mas de uma tristeza intensa. A seguir o 'Manô' proporciona o equilibrio da alegria pintada a cores.
Para o Coroneu são duas perspectivas sobre a recusa da não existência: uma dramática e realista na tradição moderna do cinema português, a outra cómica e burlesca como no tempo em que o cinema português era pai de gargalhadas mesmo a preto e branco.
quinta-feira, novembro 17, 2005
Brincar ao Poder
- Mas não é executivo um documento anual que apresenta medidas e cifras adjudicadas a essas medidas?
Já se sabia que os políticos não sérios nunca votam na proposta mas sempre no proponente, mas é degradante vê-los assumirem-se assim, pensa o Coroneu.
2.Do outro lado da bancada o PS inviabilizou ontem audições parlamentares sobre a fuga de Fátima Felgueiras para o Brasil e o seu regresso a Portugal, alegando que o assunto é do foro judicial e não político. Ninguém questiona a justificação mas mais uma vez é inevitavel a dúvida sobre a idoneidade partidária para com a autarca. E numa altura pós eleições autarquicas em que o povo não soube responsabilizar políticos não sérios seria refrescante e útil dar o exemplo.
3.Enquanto isso os outros partidos brincam ao Presidente da República.
NOTA: Portugal vai aprovar hoje uma proposta de lei que pretende duplicar para 24 milhas a área do mar onde exerce soberania. O Coroneu acha bem. E nunca seria tarde para embarcar esses políticos não sérios e deixá-los por lá, na fronteira marítima, onde poderiam brincar ao poder na conquista do leme num barco cuja direcção só realmente a eles afectaria.
sexta-feira, novembro 11, 2005
( )
quarta-feira, novembro 09, 2005
Esta Senhora Já Não Mora Aqui
E portanto a carta espera há 2 dias o reenvio pelo carteiro no caminho inverso com a notícia fúnebre escrita por um vizinho a lápis no envelope virgem da carta que quem receber saberá nunca ter sido lida porque a senhora já não morava aqui.
quinta-feira, novembro 03, 2005
A Aventura da Viagem
O que importa é partir, não é chegar."
:::::::::::::::::::::::::'Viagem' (1962), Miguel Torga
Andava o Coroneu com um dos amigos (Marco F.) a prolongar o tempo das férias da Páscoa, trilhando estradas entre as cidades de Espanha à custa de boleias, na companhia de camionistas checos de cujas piadas riam sem entender ou de jovens casais madrilenos curiosos por falar com dois miúdos portugueses, os dois desenhando percursos improvisados até ao Mediterrâneo, às vezes perdidos como naquele campo de cebolas que tiveram de pagar outras vezes demasiado inseridos como na noite mirabolante na Cataluña.
Andava o Coroneu e o Marco F. (esse amigo bastardo sangue na guelra do Atlântico) a substituir a faculdade por estradas quando à noitinha ao explicarem a simples viagem a um grupo de amigos espanhóis um deles teimava em perguntar "Porquê?" e até quando os outros tomavam a vez do Coroneu e do amigo ele insistia em perguntar "Porquê à boleia" ou então "Porque não em excursão ou assim?". Porque talvez o que ele não soubesse é que há viagens cuja magia não está no destino mas na forma como se viaja.
quinta-feira, outubro 27, 2005
Noites Estreladas de Van Gogh
"The Starry Night" (1889) ::::::::::::::::::::::::::::"Starry Night over the Rhone"(1888)
Foi num asilo 13 meses antes de morrer aos 37 anos que Van Gogh pintou o que é considerado o seu quadro mais célebre, obedecendo às constatações de Nietzsche de que a luz que brilha o dobro arde em metade do tempo ou que é preciso muito caos interior para gerar uma estrela que dança.
"Starry, Starry night Paint your palette blue and grey (...) Now I understand What you tried to say to me How you suffered for your sanity How you tried to set them free They would not listen they did not know how Perhaps they'll listen now.(..)", 'Vincent', Don McLean
quarta-feira, outubro 19, 2005
Cães Que Adoptam Pessoas
Mas o cão que adoptou o Coroneu era um cão verdadeiro. Tinha andado 30 km pelos campos e as patas feridas fizeram-no parar no acampamento onde o Coroneu dormia. Dois dias depois de ter adoptado o Coroneu, de o ter avisado dos cavalos e das vacas, seguiram pela estrada e apanharam a mesma boleia na caixa aberta de uma carrinha.
10km mais tarde o dono enchia o cão de festas. Explicou que o tinha perdido numa feira e agradeceu ao Coroneu. O Coroneu descartou-se porque o mérito pertencia às patas feridas de 40 km do cão que conseguiu achar o caminho de casa. Há donos que adoptam cães mas os cães verdadeiros adoptam os donos e, como todo sentimento que é autêntico, não os abandonam nunca. O Coroneu deixou o cão e o dono enternecidos, esperando também ele encontrar num dia desprevenido o caminho para casa.
sábado, outubro 08, 2005
(autárquico)
Vão ser eleitos políticos desfiliados e desacreditados nos seus próprios partidos, criminosos que zombaram da lei portuguesa (Felgueiras, que no Brasil continuava a receber os honorários da câmara) ou políticos de seriedade dúbia (Isaltino que resignou de um cargo público pela abertura do processo para depois se candidatar a outro cargo público na decorrência desse mesmo processo) ou Ferreira Torres e Valentim Loureiro cujo aberrante comportamento amoral perante a própria democracia não devia carecer explicações nem aos eleitores mais desatentos.
Mas nem são estes eleitores desatentos que usam Não vou votar porque são todos iguais, que lhes vão entregar as câmaras. São os outros que vão votar e que dizem Esta põs Felgueiras na televisão, em jeito de agradecimento como o Coroneu viu num noticiário.
E assim amanhã, a comprovar-se aquilo que o Coroneu receia, a questão deixa de ser Será que Portugal tem os políticos que merece, e deixa até de ser uma questão. Passa a ser uma constatação que é a que os políticos portugueses merecedores e competentes - que os há - não mereciam um Portugal com eleitores assim.
quinta-feira, outubro 06, 2005
Quantos São? Para Que São?
Câmara Municipal - orgão executivo da câmara (faz planos e planeamentos).
Lisboa - 16 vereadores.
Porto - 12 vereadores.
Municípios com mais de 100.000 eleitores - 10 vereadores.
Municípios com mais de 50.000 e até 100.000 eleitores - 8 vereadores.
Municípios com mais de 10.000 e até 50.000 eleitores - 6 vereadores.
Municípios com 10.000 ou menos eleitores - 4 vereadores.
Assembleia Municipal - orgão deliberativo da câmara (aprova decisões).
O número de membros a eleger directamente não poderá ser inferior ao triplo do número de membros da respectiva câmara municipal.
Assembleia de Freguesia
19 membros - quando o número de eleitores da freguesia for superior a 20.000;
13 membros - quando o número for igual ou inferior a 20.000 e superior a 5.000;
9 membros - quando o número for igual ou inferior a 5.000 e superior a 1.000;
7 membros - quando o número de eleitores da freguesia for igual ou inferior a 1.000.
Nas freguesias com mais de 30.000 eleitores, o número de membros da respectiva assembleia é aumentado de mais 1 por cada 5.000 eleitores além dos 30.000. Se o resultado for par, deverá ainda adicionar-se 1.
Portanto para saber quantos são lá no concelho e na freguesia basta contar o número de eleitores com os dedos. Ou então ir aqui. Próxima questão, próximo post: terá o país do Coroneu os políticos que merece?
segunda-feira, outubro 03, 2005
Eclipse Anular (mas parcial abaixo de Braga)
Eclipse solar total com maior tempo de duração (6m39s) no Séc.XXI, 2009
São 8:38 certas ao minuto - quase 1h30m antes do auge do fenómeno - e o Coroneu sonolento observa o eclipse anular do sol. Na verdade em Lisboa é um eclipse parcial. É o maior eclipse solar do último século em Portugal. O próximo eclipse anular em Portugal será em 2028. Há eclipses solares de quatro tipos:
- O eclipse total: todo o sol fica oculto pela lua. Noite completa.
- O eclipse parcial: apenas uma parte do sol é comida pela lua.
- O eclipse anular: um anel da luminosidade solar pode ser vista ao redor da lua.
- O eclipse híbrido: quando o eclipse é anular em alguns locais e total em outros.
O último eclipse que o Coroneu observou atento foi um eclipse lunar no Brasil, com a lua ao contrário num céu desconhecido. O próximo eclipse solar será total e começa onde o Brasil acaba prolongando-se até à Russia e Mongólia. Pode ser que o Coroneu lá esteja a observar atento, em 2006. Por enquanto o Coroneu está em Lisboa onde o eclipse atinge uma magnitude de 87% e sendo que o relógio quase marca 11:17 e o eclipse está prestes a acabar, adeus, boa noite e até outro dia em que o céu se volte a encontrar na esquina de dois astros.
P.S - Esta exaustiva página da N.A.S.A tem as horas locais equívocadas. Esta do Observatório Astronómico de Lisboa embora com tabelas simples e limitadas, vá lá, fracotas, está correcta.
terça-feira, setembro 27, 2005
Como um Alexander Selkirk
Entretanto na ilha teve de sobreviver aos leões marinhos que invadiram a praia, embrenhou-se na vegetação, domesticou gatos selvagens para companhia e escondeu-se de dois navios espanhóis que pelo defeito de ser irlandês o torturariam até morrer. Sobreviveu até outro navio britânico aportar na ilha, com o mesmo capitão do Cinque Ports como piloto. Alexander Selkirk voltou finalmente para casa e foi uma das inspirações do livro Robinson Crusoé publicado em 1719.
Agora, quando o Coroneu arrisca uma situação segura em troca de um risco desconhecido por defender convicções teimosas, ouve a voz experiente de um marinheiro isolado pelas ilhas do Pacífico a acautelar tendências murmurando:
'Tem cuidado Coroneu, lembra-te do teimoso escocês corajoso Alexander Selkirk'.
segunda-feira, setembro 26, 2005
Era Engano
- Xim?
O Coroneu perguntou da casa.
- Como arranjou este número? - perguntou-lhe uma feminina voz roca.
- Estava no anúncio do jornal.
- Mas, quer dizer, a casa, alugar, mas como arranjou este número?
- Desculpe, não tem uma casa para alugar? - perguntou o Coroneu confundido.
- Tenho lá a casa de Aveiro sim, confidencial claro, mas quem lhe deu este número?
- Aveiro?! Então foi engano, desculpe...
- Oiça, desculpe, não está à vontade é natural, se quiser ver a casa é sem compromisso.
- Não, é engano mesmo, obrigado.
- Para a primeira vez é natural, não está à vontade, peço-lhe é que não me ligue para o fixo por causa do meu marido.
Antes de desligar o Coroneu ouviu ainda a feminina voz rouca:
- É uma casa de frente para a ria, sem compromisso...
terça-feira, setembro 20, 2005
Societé Anonyme des Artistes Peintres
domingo, setembro 11, 2005
No Dia Que Todos Se Lembram
Há quatro anos atrás o Coroneu estava com o David (esse miúdo bastardo amigo), os dois sobre a estrada mais meridional dos Estados Unidos a menos de 200km de Cuba, tinham chegado a Key West após quase um mês viajando pela costa leste, tinham visto coisas tão diversas e curiosas como o rapaz que vendia anedotas a 1 dólar ou o Labor Day em New Orleans. E depois de quatro anos o que sobra do Coroneu e do amigo?
Cada um na sua estrada, prontos a partir de novo comendo macadame com a planta dos pés e quando o Coroneu vê hoje os programas a recordar os aviões e entretanto todos paralizados diante da televisão mais próxima, recorda-se de quando andava com o David (esse miúdo bastardo amigo) no Ford Taurus alugado, recorda-se de Party Marty (o louco personagem da noite na Florida), recorda-se dos homossexuais que ofereciam cerveja à porta do bar, recorda-se de Buffalo (a cidade do espírito gótico) e depois de quatro anos recorda-se como, assim tão longe e divertido sem pensar em mais nada a não ser viver o momento, o Coroneu recorda-se como ao saber sentiu falta dos seus.
O Coroneu e o David (esse miúdo bastardo amigo) esqueceram-se da chuva e da ausência e embriagaram-se como adolescentes, como o Coroneu há uns anos, como o Coroneu faria hoje se não soubesse sair para jantar com amigos que não recordem o que sucedeu de forma diversa como o Coroneu e também o David (esse miúdo bastardo amigo) recordam.
O que eles recordam é como acordavam de sacos cama sob um céu de tempestade ou debaixo de um sol fuzilador, o que eles recordam é da sensação inimitável e autêntica de adormecer na praia coberta de estrelas e dos mosquitos que se alimentavam deles, o que eles se recordam é de acordar no carro enquanto amanhecia e o outro já conduzia noutro Estado ou então ao anoitecer sempre numa estrada que parecia não acabar nunca como a felicidade quando surge, porque aquele era um outro mundo, o mundo dos americanos tão diferentes do que tinham imaginado, era um mundo diferente do mundo dos aviões e da morte e da angústia e lá naquele mundo seriam sempre jovens e aquelas coisas que passavam na TV e na rádio do Ford Taurus não pertenciam aquele mundo, não por eles serem diversos dos outros mas porque naquela altura, sobre a estrada, o Coroneu tinha a certeza e era talvez capaz de jurar, que não morreriam nunca.
sexta-feira, setembro 09, 2005
Katrina's Jazz for New Orleans (Long)
À noite entre a multidão da Bourbon Street soava um suave saxofone. O que distinguia a negra cega encostada à parede era o branco opaco dos olhos abertos, sem íris como nos filmes de terror. Tocava saxofone. Celebrava-se o Labor Day como um mini Mardi Gras e o Coroneu observava pela rua a gay parade coexistindo com as familias contemplativas de turistas americanos que passeavam driblando o carrinho de bébé. Nas varandas, meninas pendurando colares coloridos declinavam ao pudor desvendando implantes mamários decadentes para os voyeurs de nariz erguido. A velha negra de olhos brancos e um cordão de voodoo tocava saxofone sem aceitar gorjetas. Ao lado um cartaz pacífico esclarecia: "Salvation Jazz for New Orleans".
A 4 quarteirões do french quarter, o cemitério construido em tumbas elevadas numa premonição de inundações, que os turistas visitavam na curiosidade mórbida de quem não enterra mortos ali.
A cidade viva edificada lá em baixo, numa média de 1,5m abaixo do nível da bacia do golfo do México a norte, rodeada pelo Mississipi e os pântanos de crocodilos a sul. Os mortos sobre os vivos, numa inversão pagã coerente com os creolos franceses vendidos por Napoleão em 1803, escravos negros e artistas de jazz demasiado pobres para viajarem para Chicago como Armstrong para fugir à descriminação sulista, herdeiros falidos de colonialistas espanhóis, intelectuais americanos como Faulkner ou escritores homosexuais assumidos como Tennessee Williams. Voodoo, a mistura pacífica de contra culturas, a liberdade de expressão e a vida despreocupada sempre alvo de desprezo dos políticos conservadores.
Este ano, quatro anos e 1 piercing depois, o Katrina afastou comemorações possiveis do Labor Day. Ou como dizem as TV's, a falta de acção do governo. Os refugiados dividem-se para os estados vizinhos do Louisiana: Texas, o mais rico ou Mississipi, o mais pobre dos EUA. Pelo que noticiam as TV's a cidade evacuada tem metade dos seus polícias dados como desaparecidos. Na arena onde os habitantes coexistem há violações e tiroteios permanentes. Milhares de recém nascidos foram evacuados das maternidades sem tempo de avisar os pais. E entretanto a mãe texana do presidente afirma qualquer coisa afectada como "Nós lá no Texas somos muito hospitaleiros e eles já eram desfavorecidos, isto até foi bom para eles". Sete das cinco áreas atingidas pertenciam a famílias pobres cujos velhos diques não protegeram.
Do outro lado do oceano chegam à europa ecos da cidade mais euro-africana dos EUA. Sobre as notícias, o Coroneu distingue um suave saxofone vibrando em desabafos espirituais contra nada mas a favor da coexistência de credos e étnias que, como a velha cega disse ao Coroneu, a fez viver ali. Ali, na cidade abandonada a seu tempo por franceses, espanhóis e recentemente pelo estado americano - cuja verba para manutenção dos diques não disponibilizou, cujo plano de evacuação foi deficiente. Numa resignação aos desastres da História, à retórica e aos políticos, encostada a uma noite submersa a negra cega de olhos brancos opacos sopra no saxofone desacreditada de qualquer fé que não lhe traga a salvação eterna, para além da carne e da morte que, como nos filmes de terror, pairam sobre a suspensa alegria da vida em New Orleans.
sábado, agosto 20, 2005
1914-1918
(o Coroneu emenda porque além de não se exprimir em alemão acha um despropósito o substantivo guerra ter inicial maiúscula e como adjectivo grande) - a primeira guerra mundial.
Neste livro o Coroneu relembrou ou aprendeu o seguinte:
- A guerra foi iniciada pela Aústria contra a Servia porque um grupo chamado Mão Negra matou com uma bala o futuro imperador da Austria (Antes do tiro mortal, uma granada caiu-lhe no carro mas o futuro imperador atirou-a para trás... provocando 8 feridos do carro posterior).
- O chefe de estado alemão que se aliou à Aústria era neto da rainha de Inglaterra.
- A familia real inglesa tinha um apelido alemão antes da guerra e que mudou para o apelido inglês Windsor por desprezo aos alemães.
- Como a familia real, também foram mudados os nomes aos pastores alemães para lobos de alsácia - pensava o Coroneu que eram raças diferentes.
- Durante o ano que durou (1918-1919), a gripe espanhola matou mais pessoas (20 milhões) que a guerra (8,5 milhões).
- A guerra demorou 4 anos, 4 meses e 4 dias até ao armisticio, assinado às 11h de dia 11 de Novembro (11º mês).
O pior da guerra que não acabou com todas as guerras foi que, como o Coroneu aprendeu na Galáctica, impulsionou a segunda guerra para decidir em definitivo o resultado da primeira.
terça-feira, julho 26, 2005
New York, New York
quinta-feira, julho 21, 2005
O Telemóvel Toca Sempre Duas Vezes
'- Ó filhos d "#$%£ mas onde é que vocês estão?'
À tentativa estremunhada do Coroneu para explicar que era engano a voz não convencida balbucinou insultos descrentes e desligou. Minutos depois o telemóvel do Coroneu voltou a tocar, o mesmo número. O Coroneu atendeu e gritou:
'- Vou já.'
'- Então despacha-te', disse a voz desconhecida antes de desligar.
quarta-feira, julho 13, 2005
Estás Louco Ou Quê
Noutra cidade havia uma fada. Não era uma fada, era uma mulher que se vestia como uma fada desde a adolescência. O pai retirou-a da escola quando a mãe morreu. Levantava-se todas as manhãs, vestia uma espécie de camisa de dormir branca e longa e um chapéu alto em cone, falava em rima e ia pela passadeira frente às escolas primárias tocando plins de varinha mágica aos miúdos que passavam. Plim!, plim!, plim!
Em Lisboa há o senhor que diz adeus aos carros que apitam. Viveram os dois até a mãe morrer e ele ficar sozinho. Um dia decidiu sair à rua a cumprimentar pessoas.
Pode ser que um dia, pensa o Coroneu, pode ser que um dia a fada faça plim! e o senhor do adeus lhe apareça à frente e depois a fada faça plim! e apareçam os dois em frente da senhora dos cães e depois a fada faça plim! e apareçam os trés à noite numa esquina qualquer a dizer adeus não aos carros que apitam mas à infelicidade incompreendida que deve ser fazer o que lhes apetece num intolerante mundo de loucos.
domingo, julho 10, 2005
Parque da Cidade
O maior parque urbano de Portugal é o Parque da Cidade no Porto, com uma superfície superior a 80 hectares (mais de 110 relvados do Dragão) e cerca 8,5 km de caminhos. Lisboa tem Monsanto mas na ausência do corredor arterial proposto não se pode considerar um parque inserido.
Os esquilos brincam uns com os outros nos 140 hectares de Hyde Park, que não é sequer o maior parque de Londres. No outro lado do oceano o Coroneu usufruiu alguns dos 337 hectares de Central Park um mês antes do céu cair sobre os nova iorquinos. No distrito Palermo de Buenos Aires, os 300 hectares de Tres de Febrero foram preenchidos com lagos e jardins orientais inspiração de um arquitecto francês. New Orleans que outrora furou um piercing no Coroneu é a cidade mais cabocla e carnavalesca da América do Norte e respira 600 hectares de City Park onde o Mississipi se flui com o Golfo. Em Paris passeia-se aos domingos nos 995 hectares do Le Bois.
O Coroneu pensava em todos estes parques. Tinha ido a todos, sozinho ou com pessoas diferentes. À frente dele, junto ao lago de patos, um casal sorridente esgrimia com espadas imaginárias. O amigo tornou a passar por ali e súbito o casal espadachim desaparecera. 'Imaginei', pensou o Coroneu confuso. O amigo tornou a insistir. Antes de voltar à corrida a malograda barriga do Coroneu ainda suplicava uma clemência de suor, sem lágrimas nem sangue.
terça-feira, junho 21, 2005
A Malograda Actriz, o Sobrinho de Pratt, o Estudante Espanhol e Chardonnay - versão II
Antes de se ir embora a actriz contou-lhes em inglês uma história que tinha lido:
“Um pintor que começava os retratos pelos olhos não conseguia pintar o mar, porque o mar não tinha olhos. Um amigo disse-lhe que os olhos do mar eram os barcos. E o pintor perguntou porque é que então o mar às vezes engolia os barcos. O amigo respondeu ‘Don't you ever close your eyes and cry?’"
A história não seria exactamente assim, mas o Coroneu já a procurou sem sucesso. Limita-se a marinar na memória até que daqui a alguns anos, sem esperar e já esquecido, o Coroneu tropece no autor e se lembre novamente das palavras exactas da malograda actriz em Génova entoadas por duas garrafas de Chardonnay oferecidas pelo estudante espanhol e pelo fotógrafo ambulante sobrinho de Hugo Pratt.
quarta-feira, maio 25, 2005
Land of Oportunities, Boy
A alternativa da altura foi uma pequena fábrica portuguesa recentemente aberta no Brasil. Hoje e apenas 2 anos depois, o T.C. é responsável por um departamento chave da fábrica. Recebe um salário que reflecte a responsabilidade e coordena directamente mais de 20 pessoas.
E ainda há quem sustente que os EUA é a verdadeira terra das oportunidades. Será por conta dos filmes americanos?
terça-feira, abril 26, 2005
A 10 km de Zaragoza
"Prohibido Acampar" "Prohibido Hacer Fuego"
Passava da meia-noite. Os dois regressam à tenda constrangidos. Dentro da tenda um cheiro forte que não identificam. Acordam de manhã à espera de uma vaca a espreitá-los. Ao invés, um velho de cajado balbucinava reclamações em palpitações da boina basca. "Mis ajos", reclamava. "Mis ajos""Mis ajos""Mis ajos". O cheiro forte dentro da tenda. O cheiro que durante a noite se intrometeu nos sonhos, na roupa, no cabelo.
A contragosto o amigo do Coroneu pagou os alhos amassados sob a tenda, desmontaram tudo e deixaram o velho basco a admirar uma nota demasiado generosa. Sairam sem cozinhar arroz ou ovos. A água da fonte não logrou purificá-los. E quem sabe se o facto de não apanharem boleia durante muito tempo subsequente estaria relacionado com o cheiro a ajo. Carajo!
quinta-feira, abril 14, 2005
Na Patagónia II
sexta-feira, abril 08, 2005
Dizer Adeus no Meio da Estrada
O Coroneu não os voltou a ver. O estudante dissolveu-se na faculdade, a actriz regressou a Milão de uma audição malograda e o fotógrafo embarcou.
Mas nessa tarde era como se realmente fossem amigos; o fotógrafo escorregava para a actriz e a golpes de chardonnay tentava calar um Coroneu insistente em Hugo Pratt, o espanhol abstémio prescindia-lhe o seu próprio copo de espumante, a actriz tropeçava num papel sem diálogos e o Coroneu bebia aquilo tudo a goles que picavam no nariz.
Há pessoas que tocam com o dedo e deixam uma marca, como se se despedissem a meio caminho. Outras agarram um pulso muito tempo mas não deixam nenhum vestígio. A aprendizagem é a de tentar aproveitar cada pessoa pelo seu melhor. Como ao degustar um sumo de laranja sem dar importância à casca que se deita fora.
quinta-feira, março 24, 2005
O Brasil é Meu
O Brasil é meu não é teu
ou então
Esse não é o Brasil eu é que sei o que é o Brasil.
E o Brasil para o Coroneu é andar de fusca a álcool e saborear suco de cana da mesma cana que alimenta o fusca e faz a cachaça das caipirinhas. É saber que nem todos os estados deliram com o carnaval. É saber a diferença entre suco e vitamina. Lanchar um milk shake. Comprar fichas para os telefones públicos. Ouvir quero-queros e admirar jabirús. Negociar preços no camelô dizendo Ó cara eu não sou gringo. Usar fichas na corrente de 3 pólos. Dizer frigobar e criado mudo e caiu a ficha e papetes e toda a vida recto e perguntar Oi? Conhecer a história dos bandeirantes. Respirar Pantanal e tropeçar numa cobra cara-de-sapo. Resolver abacaxi. Ver prendas dançar. Fazer chupeta ao carro. Ler o H como R. Pegar mototáxi. Democratizar MPB, Bossa Nova, Axé, Forró e Afoxé. Descomplexar espiritismo, candomblé e orixás, mães de santo e pajés.
Acontece sempre. Com o sol o Coroneu viaja na maionese. E pensa Eu é que sei o que é o Brasil. Mas não sabe. Só os brasileiros sabem do que ainda há tanto para saber. Ao Coroneu até regressar resta-lhe soprar bolhas de saudade com a palavra Brasil lá dentro.
quarta-feira, março 16, 2005
Na Montanha é Diferente
Coberta de neve, a montanha exige dedicação em troca de sobrevivência. Não há batota na montanha. Como não há batota no fundo do mar. Como não há batota no deserto árido. O modesto conhecimento do Coroneu junta estes ambientes onde a batota fica de fora. Onde o branco da montanha é branco mas sempre diferente. O azul do mar é só azul mas nunca cansa. A areia do deserto só areia mas sempre mutável.
Estava nublado na montanha e enquanto descia uma pista entusiasmado pelo branco omnipresente, o Coroneu sucumbiu à tentação e esforçou mais do que sabia. E a montanha respondeu. Numa queda torceu um tornozelo, partiu a prancha para não torcer o outro e foi directo ao posto médico de onde saiu de muletas. Nada que não cure em poucos dias, mas o Coroneu reaprendeu. A montanha é uma amante exigente que não tolera desonestidades. Mas está sempre pronta a perdoar e a reaceitar todos os anos pelo Inverno. E nunca é igual. E o branco não é só branco. E para o ano o Coroneu vai tentar não fazer batota. Porque na montanha é diferente. E se é feio enganar pessoas, enganar montanhas nem é possivel. Não se enganam montanhas, Coroneu. Não se enganam montanhas.
segunda-feira, fevereiro 28, 2005
And The Winner Is
Mesmo assim o Coroneu acha que Portugal é o melhor país do mundo para se viver. Sem os níveis de insegurança do Brasil, sem o clima moribundo do norte da Europa, sem a miséria de África, sem a hipocrisia americana, onde cada vez mais gente se interessa, onde é cada vez menos dificil empreender, publicar, editar... É talvez por isso que muitos estrangeiros que vêm ficam. Que muitos portugueses que vão têm o objectivo - concretizado ou não - de regressar. Apesar da falta de emotividade que Sócrates já demonstrou o Coroneu mantém uma optimista espectativa prudente. É que no palco legislativo todos os nomeados são premiados. 4 anos depois, ou menos. Resta saber quais vão ser os nomeados para as respectivas pastas e se daqui a 4 anos no máximo os prémios de actores e realizadores levam o epíteto de 'melhor' ou 'pior'. O Coroneu vai estar atento. Porque como diria a lírica senhora de bigode no mercado 'O mundo é um palco mas quem se lixa é o mexilhão'.
Compromissos do novo Governo:
- Apoiar a criação de 200 novas empresas de base tecnológica.
- Lançar programa de jovens quadros em gestão/inovação para as PME.
- Repor os benefícios fiscais à I&D das empresas.
- Introduzir o empreendedorismo como matéria obrigatória no ensino.
- Colocação de um curso pós-graduado de gestão (MBA) entre os 100 melhores do Mundo.
- Duplicar os fundos de capital de risco para projectos inovadores.
- Triplicar o esforço privado em I&D.
- Duplicar o investimento público em I&D até 1% do PIB.
- Triplicar o número de patentes registadas.
- Criar 1.000 lugares adicionais para I&D na administração pública, em contrapartida da extinção de vagas menos qualificadas.
- Generalização do acesso à banda larga a preços competitivos.
- Afectar 20% das contrapartidas de compras públicas a projectos de I&D.
- Repor a autonomia financeira das instituições de investigação.
- Reformar os Laboratórios do Estado e contratualizar as suas missões.
- Consolidar as finanças públicas.
- Cumprir o Pacto de Estabilidade e Crescimento, sem receitas extraordinárias até ao final da legislatura.
- Rever as normas de elaboração e aplicação do Orçamento de Estado no sentido da transparência e da eficácia no controlo da despesa.
- Aprovar um programa plurianual de redução da despesa.
- Apoiar uma revisão do Pacto de Estabilidade e Crescimento que favoreça o crescimento sem por em causa os objectivos da consolidação orçamental.
- Combater a fuga e evasão fiscal: alterar o regime do sigilo bancário para efeitos fiscais em linha com as melhores práticas europeias.
- Reforço da selectividade e qualidade do investimento público.
- Simplificação, equidade e eficiência do sistema fiscal.
- Modernizar a administração pública e promover a eficiência.
- Possibilitar a criação de empresas num só dia.Criar o Cartão Único do Cidadão (reunindo BI, Contribuinte, SNS, Eleitor, Segurança Social).
- Criar o Documento Único Automóvel (reunindo Livrete e Registo de Propriedade).
- Introduzir a Informação Predial Única.
- Lançar uma nova geração de Lojas do Cidadão e de Centros de Formalidades de Empresas.
- Eliminar o duplo controlo notarial e registral.
- Reduzir nos próximos 4 anos em 75 mil o número de funcionários públicos, com a regra de uma admissão por cada duas saídas (por aposentação ou desvinculação).
- Introduzir o regime de contrato nas novas admissões, salvo para funções de soberania.
- Generalizar a gestão por objectivos e aperfeiçoar o sistema de avaliação.
- Delimitar o conjunto de cargos dirigentes de nomeação política.
- Efectivar a reforma da Acção Executiva.
- Reforçar os meios e aperfeiçoar os poderes das entidades reguladoras.
sexta-feira, fevereiro 18, 2005
Ano Chinês - Contas e Acertos
O ano chinês rege-se pela Lua. Cada ano tem 12 meses lunares de 29,5 dias cada - tempo que demora a circular a Terra . No total apenas 354 dias formam o ano lunar ou o ano chinês, compensados com a criação de um mês a mais em cada 2,5 anos. Há 12 animais. Como há cinco elementos para cada animal o ciclo chinês cumpre-se cada 60 anos.
São 12 animais e várias lendas. A lenda que associa os animais a Buda relata que foram chamados todos os animais para uma corrida. O gato combinou com o rato acordarem-se mutuamente. Mas o rato quebrou o acordo e foi dormir na orelha do madrugador boi. De madrugada o boi levou o rato e o gato ficou adormecido. Na eminência da meta o rato pulou delegando o boi para segundo lugar. Depois o tigre, o coelho, o dragão, a serpente, o cavalo, o carneiro, o macaco, o galo, o cão, e o porco.
Outra lenda diz que o gato comeu o rato e Buda expulsou o felino acolhendo no seu lugar o coelho. De qualquer forma, o gato e o rato nunca se deram bem desde então e o próprio boi apresenta dificuldades em perdoar o rato. Como o calendário chinês é tido como o mais antigo do mundo, de 2637 AC, deve corroer manter ressentimentos tanto tempo. Talvez por isso um dos estágios da sapiência chinesa pretere os acertos de contas a favor de perdões que despoletam sorrisos numa consciência desanuviada.
segunda-feira, fevereiro 14, 2005
Pistas Para Compreender o Mundo
Porque é que os italianos utilizam 'morbido' para a ideia de 'suave'. Porque é que os franceses soam a 'retrete' quando querem exprimir 'reforma'. Porque é que os espanhóis usam 'larga' para dizer 'comprida'. Porque é que na Argentina usam 'batata' para 'batata doce' e 'vos' para 'tu'. Porque é que na Bolivia 'alto' é 'muito'. Porque é que no Brasil 'lima' é 'limão' e 'limão' é 'lima'.
E sobretudo porque é que não há tradução em nenhum idioma
(inglês, francês, alemão, italiano, castelhano, ...)
do exclusivo vocábulo português 'saudade'.
Disclamer - A direita e a esquerda referidas em cima referem-se apenas à linguística e não estão de forma alguma relacionadas com conceitos de ciência política.
segunda-feira, janeiro 31, 2005
Ai Esses Miúdos
O elevador chegou, todos os cinco entraram.
O espaço dentro do elevador era curto e o francês chefe de todos disse 'Ninguém se mova' e acto continuo deu um pulo e depois outro e depois outro e no final todos estavam aos pulos e no final do quinto ou sexto pulo o elevador soluçou e encravando parou. Do painel uma voz ressoou 'Está tudo bem? Entre que andares parou?'. O Coroneu respondeu. Dentro do elevador a temperatura subia.
Quando a equipa de desencravamento conseguiu finalmente baixar o elevador a um andar e abrir a porta deparou-se com quatro franceses e um português, todos em tronco nú de gravata ao pescoço e ao pé coxinho a jogar tetris de telemovel. Antes de irem para os respectivos quartos compararam os recordes. Ficou prometida uma nova sessão no dia seguinte que não chegou a cumprir-se porque ficaram em reuniões até tarde na fábrica.
quarta-feira, janeiro 12, 2005
Martini: Causa Efeito no Mundo Automóvel
awful name automobile has come to stay..."
1897, New York Times
Foi assim que apareceu pela primeira vez massificada ao público a palavra automobile, de que deriva automóvel. A palavra foi criada no Séc.XIV por um pintor/engenheiro chamado Martini - desde cedo a profíncua relação condução-bebida. Martini foi buscar a palavra grega 'auto' e a latina 'mobils'. Engenheiros artistas é o que dá...
(Carro provém de vocábulos usados para carruagens de cavalos, do Celta 'carrus')
Estimam-se em cerca de 100 mil as patentes envolvidas no carro como o conhecemos hoje. A optimização nas linhas de produção é atribuida a Frederick W. Taylor que levava trabalho para casa obrigando os filhos a tomarem banho e a lavar os dentes seguindo instruções precisas para reduzir o tempo. Um deles tornou-se - dizem - um bêbado dedicado.
Considera-se que o primeiro automóvel foi construido em 1771 pelo francês Cugnot; uma máquina a vapor que parava de 15 em 15 minutos para abastecer. Um dos dois homens que o financiava morreu na mesma altura em que o outro fugiu com uma amante - desgosto de amor? Numa demosntração ao rei o francês foi protagonista do primeiro acidente automóvel, contra uma parede de pedra. Rumores acusam embriagez de Martini. Dado que a Martini foi fundada quase 100 anos depois, provavelmente tratava-se de uma garrafa de Vermute caseiro.
“I am going to democratize the automobile. When I’m through
everybody will be able to afford one, and about everyone will have one.”
1909, Henry Ford
quinta-feira, janeiro 06, 2005
Insómnia
I have spread my dreams under your feet;
tread softly, because you tread on my dreams."
'He Wishes for the Cloths of Heaven', William Butler Yeats
Está frio na varanda do 3º andar. É a 3ª vez que o Coroneu habita um 3º andar. Há qualquer coisa com o 3º andar. À noite a rua do Coroneu fica deserta, habitada de carros adormecidos e de janelas às escuras. O Coroneu estende o braço, empertiga o indicador e a rua transforma-se num rio de lama incandescente. Já não está tanto frio. De seguida o Coroneu estende o braço, empertiga o indicador e os carros são águias, as portas abertas asas e o capôt um bico enorme. Olha para cima. Vêem-se estrelas, algumas. O Coroneu empertiga o dedo e caiem lâmpadas laranjas que se fundem ao cair na lava que é a rua. Já não está frio. O Coroneu fica ali na varanda a olhar a lava que escorre em baixo, a olhar carros a subir para o céu e a olhar chuvas de lâmpadas luminosas com insectos lá dentro. Maravilhoso. Por isso o Coroneu tem sempre cuidado ao passar numa rua. Não quer pisar os sonhos de quem não dorme.