Havia uma senhora que recusara a herança de um tio desconhecido e foi viver com os animais. Vestia várias camadas de roupa, vivia nos parques, dava milho aos pombos e caminhava protegida pelos cães. Não se lhe podia concretizar a idade certa devido à batota do sol sobre a pele e os cabelos e as várias camadas de roupa, mesmo no Verão. Se alguém se aproxima do banco do parque onde ela dorme os cães rosnam. Vive de banco em banco, a adoptar cães e a distribuir milho aos pombos.
Noutra cidade havia uma fada. Não era uma fada, era uma mulher que se vestia como uma fada desde a adolescência. O pai retirou-a da escola quando a mãe morreu. Levantava-se todas as manhãs, vestia uma espécie de camisa de dormir branca e longa e um chapéu alto em cone, falava em rima e ia pela passadeira frente às escolas primárias tocando plins de varinha mágica aos miúdos que passavam. Plim!, plim!, plim!
Em Lisboa há o senhor que diz adeus aos carros que apitam. Viveram os dois até a mãe morrer e ele ficar sozinho. Um dia decidiu sair à rua a cumprimentar pessoas.
Pode ser que um dia, pensa o Coroneu, pode ser que um dia a fada faça plim! e o senhor do adeus lhe apareça à frente e depois a fada faça plim! e apareçam os dois em frente da senhora dos cães e depois a fada faça plim! e apareçam os trés à noite numa esquina qualquer a dizer adeus não aos carros que apitam mas à infelicidade incompreendida que deve ser fazer o que lhes apetece num intolerante mundo de loucos.
2 comentários:
Nós queremos ser as fadas xonés,
que andam na pontinha dos pés,
que são amigas do menino do contra,
que queria tudo ao contrário,
que punha os ratos na cama,
e que dormia no armário.
São os loucos de Lisboa,
que nos fazem duvidar...
Enviar um comentário