'Non perche siammo diversi del altri, ma perche noi non morriremo mai', Luna Pop
Há quatro anos atrás o Coroneu estava com o David (esse miúdo bastardo amigo), os dois sobre a estrada mais meridional dos Estados Unidos a menos de 200km de Cuba, tinham chegado a Key West após quase um mês viajando pela costa leste, tinham visto coisas tão diversas e curiosas como o rapaz que vendia anedotas a 1 dólar ou o Labor Day em New Orleans. E depois de quatro anos o que sobra do Coroneu e do amigo?
Cada um na sua estrada, prontos a partir de novo comendo macadame com a planta dos pés e quando o Coroneu vê hoje os programas a recordar os aviões e entretanto todos paralizados diante da televisão mais próxima, recorda-se de quando andava com o David (esse miúdo bastardo amigo) no Ford Taurus alugado, recorda-se de Party Marty (o louco personagem da noite na Florida), recorda-se dos homossexuais que ofereciam cerveja à porta do bar, recorda-se de Buffalo (a cidade do espírito gótico) e depois de quatro anos recorda-se como, assim tão longe e divertido sem pensar em mais nada a não ser viver o momento, o Coroneu recorda-se como ao saber sentiu falta dos seus.
O Coroneu e o David (esse miúdo bastardo amigo) esqueceram-se da chuva e da ausência e embriagaram-se como adolescentes, como o Coroneu há uns anos, como o Coroneu faria hoje se não soubesse sair para jantar com amigos que não recordem o que sucedeu de forma diversa como o Coroneu e também o David (esse miúdo bastardo amigo) recordam.
O que eles recordam é como acordavam de sacos cama sob um céu de tempestade ou debaixo de um sol fuzilador, o que eles recordam é da sensação inimitável e autêntica de adormecer na praia coberta de estrelas e dos mosquitos que se alimentavam deles, o que eles se recordam é de acordar no carro enquanto amanhecia e o outro já conduzia noutro Estado ou então ao anoitecer sempre numa estrada que parecia não acabar nunca como a felicidade quando surge, porque aquele era um outro mundo, o mundo dos americanos tão diferentes do que tinham imaginado, era um mundo diferente do mundo dos aviões e da morte e da angústia e lá naquele mundo seriam sempre jovens e aquelas coisas que passavam na TV e na rádio do Ford Taurus não pertenciam aquele mundo, não por eles serem diversos dos outros mas porque naquela altura, sobre a estrada, o Coroneu tinha a certeza e era talvez capaz de jurar, que não morreriam nunca.
9 comentários:
uma perspectiva do 11 de Setembro bem diferente
O JT pensa que se este blog fosse actualizado mais vezes, mantendo a qualidade, seria um dos melhores da blogosfera.
O Coroneu agradece ao comentário demasiado amável do JT e vai tentar - agora que já passou Agosto e tudo - actualizar mais vezes por semana. Vamos lá ver se consegue.
E há que concordar com o JT... Agora, sou só eu, ou o Coroneu tem uns laivos de Peterman? ;-)
Talvez tenha... Mas quem é Peterman? O da gestão?
Peterman, do Seinfeld? se for, não estás sozinho bem visto
Ahhh, do catálogo Peterman! LOL Está boa Bem Visto!
Muito bom; desde que entra o Coroneu e o David (esse miúdo bastardo amigo) até que o "Coroneu tinha a certeza e era talvez capaz de jurar, que não morreriam nunca". Um dos melhores registos do diário de bordo do Coroneu.
(É mesmo "... não por eles serem diversos dos outros..."?)
Adoro o ritmo deste texto: está muito bem conseguido; a intensidade das frases.
Muito bom. (Já disse isto, disse, ok, repito-me.)
Coroneu supera-se a si próprio! Muito bom material Coroneu...
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