terça-feira, julho 26, 2005
New York, New York
Um mês antes do céu cair aos pedaços em NY o Coroneu e um amigo chegaram ao aeroporto JFK sem alojamento marcado. Era de noite e levavam nas mochilas uma tenda e dois sacos cama. Sairam do aeroporto depois da burocracia fronteiriça sem saber para onde. Não tinham planeado nada. Os autocarros nocturnos do aeroporto para a metrópole pareciam demasiado perigosos, demasiada gente desconhecida. Saíram pelas traseiras do aeroporto. Percorreram um enorme parque de estacionamento. Ao fundo passaram pela porta de rede e atravessaram um viaduto. Os faróis passavam com velocidade. Viram-se num espaço verde condensado entre viadutos. A ideia de não planear era improvisar e aproveitar a idade. Estava demasiado calor para montar a tenda, estenderam os saco-cama. Adormeceram entre o rumor veloz dos carros e inesperadas cigarras urbanas, começavam os contrastes da metrópole que nunca dorme. Foi a primeira noite do Coroneu em Nova Iorque, um mês antes do céu desabar.
quinta-feira, julho 21, 2005
O Telemóvel Toca Sempre Duas Vezes
Eram 8 da manhã quando o telemóvel soou a acusar um número desconhecido. O Coroneu acordou, limpou a garganta, ensaiou a voz, ergueu-se e atendeu. No outro lado uma voz indignada a solavancos de insulto:
'- Ó filhos d "#$%£ mas onde é que vocês estão?'
À tentativa estremunhada do Coroneu para explicar que era engano a voz não convencida balbucinou insultos descrentes e desligou. Minutos depois o telemóvel do Coroneu voltou a tocar, o mesmo número. O Coroneu atendeu e gritou:
'- Vou já.'
'- Então despacha-te', disse a voz desconhecida antes de desligar.
'- Ó filhos d "#$%£ mas onde é que vocês estão?'
À tentativa estremunhada do Coroneu para explicar que era engano a voz não convencida balbucinou insultos descrentes e desligou. Minutos depois o telemóvel do Coroneu voltou a tocar, o mesmo número. O Coroneu atendeu e gritou:
'- Vou já.'
'- Então despacha-te', disse a voz desconhecida antes de desligar.
quarta-feira, julho 13, 2005
Estás Louco Ou Quê
Havia uma senhora que recusara a herança de um tio desconhecido e foi viver com os animais. Vestia várias camadas de roupa, vivia nos parques, dava milho aos pombos e caminhava protegida pelos cães. Não se lhe podia concretizar a idade certa devido à batota do sol sobre a pele e os cabelos e as várias camadas de roupa, mesmo no Verão. Se alguém se aproxima do banco do parque onde ela dorme os cães rosnam. Vive de banco em banco, a adoptar cães e a distribuir milho aos pombos.
Noutra cidade havia uma fada. Não era uma fada, era uma mulher que se vestia como uma fada desde a adolescência. O pai retirou-a da escola quando a mãe morreu. Levantava-se todas as manhãs, vestia uma espécie de camisa de dormir branca e longa e um chapéu alto em cone, falava em rima e ia pela passadeira frente às escolas primárias tocando plins de varinha mágica aos miúdos que passavam. Plim!, plim!, plim!
Em Lisboa há o senhor que diz adeus aos carros que apitam. Viveram os dois até a mãe morrer e ele ficar sozinho. Um dia decidiu sair à rua a cumprimentar pessoas.
Pode ser que um dia, pensa o Coroneu, pode ser que um dia a fada faça plim! e o senhor do adeus lhe apareça à frente e depois a fada faça plim! e apareçam os dois em frente da senhora dos cães e depois a fada faça plim! e apareçam os trés à noite numa esquina qualquer a dizer adeus não aos carros que apitam mas à infelicidade incompreendida que deve ser fazer o que lhes apetece num intolerante mundo de loucos.
Noutra cidade havia uma fada. Não era uma fada, era uma mulher que se vestia como uma fada desde a adolescência. O pai retirou-a da escola quando a mãe morreu. Levantava-se todas as manhãs, vestia uma espécie de camisa de dormir branca e longa e um chapéu alto em cone, falava em rima e ia pela passadeira frente às escolas primárias tocando plins de varinha mágica aos miúdos que passavam. Plim!, plim!, plim!
Em Lisboa há o senhor que diz adeus aos carros que apitam. Viveram os dois até a mãe morrer e ele ficar sozinho. Um dia decidiu sair à rua a cumprimentar pessoas.
Pode ser que um dia, pensa o Coroneu, pode ser que um dia a fada faça plim! e o senhor do adeus lhe apareça à frente e depois a fada faça plim! e apareçam os dois em frente da senhora dos cães e depois a fada faça plim! e apareçam os trés à noite numa esquina qualquer a dizer adeus não aos carros que apitam mas à infelicidade incompreendida que deve ser fazer o que lhes apetece num intolerante mundo de loucos.
domingo, julho 10, 2005
Parque da Cidade
O Coroneu sentava-se ofegante num banco do parque descansando num interregno posterior à corrida de desmoer excessos. O amigo não parou e até desaparecer na curva dos 8 km de caminhos tentava incentivar um Coroneu exausto. Tal como as fábricas para a industrialização, o parque verde urbano é uma das medidas da qualidade de vida de uma cidade, pensava o Coroneu depois.
O maior parque urbano de Portugal é o Parque da Cidade no Porto, com uma superfície superior a 80 hectares (mais de 110 relvados do Dragão) e cerca 8,5 km de caminhos. Lisboa tem Monsanto mas na ausência do corredor arterial proposto não se pode considerar um parque inserido.
Os esquilos brincam uns com os outros nos 140 hectares de Hyde Park, que não é sequer o maior parque de Londres. No outro lado do oceano o Coroneu usufruiu alguns dos 337 hectares de Central Park um mês antes do céu cair sobre os nova iorquinos. No distrito Palermo de Buenos Aires, os 300 hectares de Tres de Febrero foram preenchidos com lagos e jardins orientais inspiração de um arquitecto francês. New Orleans que outrora furou um piercing no Coroneu é a cidade mais cabocla e carnavalesca da América do Norte e respira 600 hectares de City Park onde o Mississipi se flui com o Golfo. Em Paris passeia-se aos domingos nos 995 hectares do Le Bois.
O Coroneu pensava em todos estes parques. Tinha ido a todos, sozinho ou com pessoas diferentes. À frente dele, junto ao lago de patos, um casal sorridente esgrimia com espadas imaginárias. O amigo tornou a passar por ali e súbito o casal espadachim desaparecera. 'Imaginei', pensou o Coroneu confuso. O amigo tornou a insistir. Antes de voltar à corrida a malograda barriga do Coroneu ainda suplicava uma clemência de suor, sem lágrimas nem sangue.
O maior parque urbano de Portugal é o Parque da Cidade no Porto, com uma superfície superior a 80 hectares (mais de 110 relvados do Dragão) e cerca 8,5 km de caminhos. Lisboa tem Monsanto mas na ausência do corredor arterial proposto não se pode considerar um parque inserido.
Os esquilos brincam uns com os outros nos 140 hectares de Hyde Park, que não é sequer o maior parque de Londres. No outro lado do oceano o Coroneu usufruiu alguns dos 337 hectares de Central Park um mês antes do céu cair sobre os nova iorquinos. No distrito Palermo de Buenos Aires, os 300 hectares de Tres de Febrero foram preenchidos com lagos e jardins orientais inspiração de um arquitecto francês. New Orleans que outrora furou um piercing no Coroneu é a cidade mais cabocla e carnavalesca da América do Norte e respira 600 hectares de City Park onde o Mississipi se flui com o Golfo. Em Paris passeia-se aos domingos nos 995 hectares do Le Bois.
O Coroneu pensava em todos estes parques. Tinha ido a todos, sozinho ou com pessoas diferentes. À frente dele, junto ao lago de patos, um casal sorridente esgrimia com espadas imaginárias. O amigo tornou a passar por ali e súbito o casal espadachim desaparecera. 'Imaginei', pensou o Coroneu confuso. O amigo tornou a insistir. Antes de voltar à corrida a malograda barriga do Coroneu ainda suplicava uma clemência de suor, sem lágrimas nem sangue.