"How in the name of Heaven can he escape
That defiling and disfigured shape
The mirror of malicious eyes
Casts upon his eyes until at last
He thinks that shape must be his shape?"
...................................................'A Dialogue Of Self And Soul', William Butler Yeats
Num piscar de semáforo (verde, amarelo, vermelho) o Coroneu travou e já sem cinto levitou através do tecto de abrir em direcção às estrelas, em direcção ao que costumam ser as estrelas, opacas pelo céu da cidade.
Lá em cima, com o mundo a rolar por baixo, o Coroneu não ouvia as pequenas imposições de nepotismo, não ouvia os rumores das maquinarias a pararem por ausência de uma manutenção incompetente, não ouvia o quotidiano simplista dos fortes contra os fracos, dos fortes com relações privilegiadas contra os fracos a tentarem subir as escadas a custo de músculos, não ouvia também a injustiça dos fracos contra os mais fracos ainda, a forma como alguns fracos se aliam a alguns fortes, não ouvia as colunas vertebrais a curvarem como os insectos ao morrer.
E de repente, um piscar de semáforo (verde), o Coroneu liga o rádio e acelera em direcção às grandes chaminés que descem do céu a aterrar no complexo industrial escuro que é a fábrica sem escrúpulos.