O Coroneu gosta de pensar que pertence ao cluster de pessoas que tem o dom de saber escutar; tal como ver não é só olhar, escutar é mais que ouvir. (A esta sinceridade blinda-a o Coroneu dessa imodéstia comum aos que usam a palavra cluster em vez de agrupamento – mas antes cluster que clister).
Isto para contar que ao sair do carro para um jogging rápido pelo parque apareceu um indivíduo desesperado a solicitar $ porque o carro empanou e tal e tal… O individuo ficou com o nº telemóvel do Coroneu que lhe deu a nota mais baixa do mercado, consciente que o carro empanado e tal e tal era um pretexto. No entanto uns dias depois, (alvissaras! alvissaras!) o indivíduo enviou realmente um vale do correio no valor da nota mais baixa do mercado.
Mas vale mesmo a pena saber escutar quando há pessoas que sabem contar (que é mais que falar) e é dessas pessoas que a solidão do Coroneu tem saudades - talvez não as tenha apreciado quanto devia enquanto as escutava. A saudade é uma pessoa invisível que nos bate à porta só para vermos que já não há ninguém. A solidão é uma pessoa invisível que nos telefona só para verificarmos que ninguém responde. A loucura começa quando acreditamos que a saudade ou a solidão são pessoas invisíveis. Um sinal de sanidade é pensarmos que a saudade e a solidão não dependem de outras pessoas. Outro sinal de sanidade é não usarmos jogging quando podemos dizer corrida.
"listen," I said, not looking
around, "it's the kiss of death to
talk about horses at the
track..."
"what kind of rule is that?"
he asked. "God doesn't make
rules...
"I turned around and looked at him:
"maybe not, but I
do."
'I like your books', Charles Bukowski
2 comentários:
Ao ler coisas assim é que se percebe - percebe não, compreender, perceber não é compreender;) - o que é escrever.
Eu gostei mesmo muito. Mesmo.
(Aleluia às coisas bonitas que lemos antes de adormecer.)
O Coroneu continua mesmo em forma.
:)
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