Estava o Coroneu sentado na janela de um café, aproxima-se um senhor de pelo menos 50 anos sem mau aspecto. Desembrulhando desculpas começa a falar. Que não queria dinheiro, ajuda para comer, nada. Que vivia sem dificuldade, que antes da reforma tinha feito reportagens para o Expresso, a Capital, o Diário de Notícias, Independente, que a família cortou relações por não concordar com o casamento, que ele e a mulher tentaram mas não tiveram filhos. O Coroneu olhou disfarçadamente para o relógio e convidando-o para se sentar ofereceu-lhe um café. Que gostava muito de ler (Dickens, Conrad, Julio Verne) e de música, que depois de viúvo sentia falta de falar com alguém, que já experimentara um lar mas achava o ambiente horrível, que na igreja eram demasiado obtusos.
Depois de 20 minutos o Coroneu desculpou-se que tinha de sair. O senhor levantou-se e não aceitou outra coisa que não pagar os cafés. Disse a sorrir "Estou habituado. Hoje em dia nem o próprio tempo tem tempo para mim. Já lhe agradeço muito.". Já no carro o Coroneu meditou que o senhor não queria dinheiro nem ajuda para comer. O que o senhor queria era o tempo de alguém para o ouvir e ao pagar os cafés estava a comprar o tempo que tomou ao Coroneu. O Coroneu aumentou o som do mundo a entrar pelo rádio, talvez incomodado por ter receado apenas um senhor sem ninguém para o ouvir.
1 comentário:
São coisas como estas que me fazem pensar na sorte que tenho ao ter tantos amigos por perto, que felizmente têm todo o tempo do mundo para mim, assim como eu tenho para eles.
Bjo
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